Críticas AdoroCinema
2,0
Fraco
A Batalha das Correntes

Uma luz que não acende

por Laysa Zanetti

Dois anos se passaram desde quando A Batalha das Correntes foi engavetado — o filme era uma produção da finada The Weinstein Company bem no momento em que o escândalo de Harvey Weinstein estourou e encabeçou uma quase tentativa de revolução em Hollywood. Agora, enfim chegando às telonas, o longa de Alfonso Gomez-Rejon traz uma versão correta — se não pouquíssimo ousada — do embate entre Thomas Alva Edison (Benedict Cumberbatch) e George Westinghouse (Michael Shannon).

A trama que acompanha o embate quase ideológico entre os dois inventores — um que apostava em energia por corrente contínua e outro que apostava no custo-benefício da corrente alternada — segue uma estrutura bastante tradicional e sem grandes reviravoltas ou relações inesperadas: Edison e Westinghouse são gato e rato, o personagem de Benedict Cumberbatch é praticamente o mesmo de sempre. Ele é o gênio arrogante, com tendências ao isolamento, que se porta como o único dono da verdade irredutível capaz de solucionar todos os problemas sem a ajuda de ninguém. É claro que surge ali, no meio do caminho, um trauma, um grande problema familiar que deveria supostamente servir de trampolim para que o comportamento do protagonista se modificasse ou fosse justificado. No entanto, mesmo que este fosse o objetivo, Tuppence Middleton tem um papel pequeno e esquecível como Mary Edison, servindo apenas como um artifício preguiçoso, problemático e, ainda por cima, mal explorado.

Neste sentido, o roteiro de Michael Mitnick peca por não conseguir transmitir qualquer emoção. O que era para ser uma história sobre homens geniais mas complicados em uma infindável briga de egos que sacrifica a evolução em prol de crédito, transforma-se rapidamente em uma reprodução ora confusa, ora extremamente didática, de eventos históricos banhados por uma fotografia escura que desperdiça qualquer chance de usar a temática para transformar o que se vê em um espetáculo de luzes ou de falta delas.

É justamente por isso que não basta que a história por si só já seja interessante. A Batalha das Correntes jamais engrena e apenas ensaia provocar o que o espectador sabe — ou pensa que sabe — sobre essas figuras históricas e sobre os bastidores sujos que raramente estão nos livros escolares. O tema no entorno das correntes elétricas que são usadas sem que sequer pensemos é algo naturalmente distante do espectador médio, e a explicação ou ilustração do assunto central jamais repercute, jamais chega a transcender durante o longa. Isso faz com que todo o cerne da questão — afinal, corrente alternada é ou não um risco? — nunca chegue a tecer tanta importância para quem está do outro lado da tela. Aliás, pelo contrário, funciona como uma espécie de cortina de água que impede uma conexão real e causa distanciamento.

Enquanto uma tentativa de contrapor os benefícios e os malefícios desta disputa egocêntrica protagonizada por Edison e Westinghouse, A Batalha das Correntes é um filme extremamente raso e nunca consegue atingir a almejada complexidade de seus personagens centrais. Enquanto uma aula de história, é um filme lúcido e apenas correto, mas que fica sempre na periferia das feridas que desejaria tocar. Se fosse um dos experimentos de Thomas Edison, seria uma lâmpada que fica acesa apenas por 10 segundos.  

Filme visto no 21º Festival do Rio, em dezembro de 2019.