Críticas AdoroCinema
3,5
Bom
Amor Fora da Lei

Beleza texana

por Renato Hermsdorff

Com uma extensa carreira como montador, o diretor David Lowery fez fama no cinema independente. Seu primeiro longa-metragem, St. Nick, que não teve lançamento no Brasil, estreou no festival lado B South by Southwest, em 2009.

Seu segundo longa-metragem, este Amor Fora da Lei (Ain't Them Bodies Saints), foi selecionado para o Grande Prêmio do Júri no Festival de Sundance 2013 e também para a semana da crítica do Festival de Cannes. Com a participação nas premiações – e um elenco que inclui Casey Affleck e Rooney Mara, claro –, o filme ganhou projeção internacional e agora chega aos cinemas brasileiros.

A história é centrada no jovem casal formado por Bob Muldoon (Casey Affleck) e Ruth Guthrie (Rooney Mara), que vive um tipo de amor bandido no Texas dos anos 1970. Enquanto ele comete pequenos assaltos, ela, que acaba de descobrir que está grávida, não mostra a mínima preocupação com a atividade ilegal. Até que ele é pego e, da cadeia, passa a se corresponder com Ruth por carta, com a promessa de retomar a vida a dois, depois que sair da prisão.

Um ponto forte do filme é o elenco. E, dentro dele, Rooney Mara. O sotaque caipira texano (região de domínio do diretor) feito por ela e Casey Affleck funciona muito bem na ambientação do filme. E o amadurecimento do seu (dela) personagem, frente à prisão do amante, é conduzido de forma econômica e natural pela atriz, que já havia mostrado versatilidade em filmes tão diferentes como Millennium - Os Homens Que Não Amavam as Mulheres e Terapia de Risco.

Com uma boa experiência de bastidores, tecnicamente, Lowery faz um filme que é um primor. Bem montado e permeado por uma trilha instrumental do ideal, que ajuda na construção do clima (texano de época), mas que não compete por atenção com as imagens. E, se cinema é imagem, o que Lowery faz é um cinemão. O grande mérito é o uso da luz, sobretudo da contraluz, que resulta em imagens lindas, e da pouca luz, que força (no bom sentido) o espectador a não desgrudar os olhos da tela.

Por conta dessa característica, David Lowery, com seu Amor Fora da Lei, foi muito comparado ao cineasta taxado de difícil Terrence Malick (Além da Linha Vermelha, A Árvore da Vida). A vantagem da sua obra seria a de, ao contrário do consagrado diretor, trazer um roteiro acessível. Mas, se por um lado, a história é facilmente compreensível, sem excessos, por outro, também, não surpreende.

Num primeiro momento (ato), as cartas são postas na mesa. Sem blefes. A ação em si (as juras de amor, a notícia da gravidez, a prisão) acontece de maneira ágil. De modo que não parece sobrar muito na manga para o diretor contar durante o desenvolvimento do filme, o que soa um pouco arrastado. Fica um pouco chato, mas continua muito bonito.