Críticas AdoroCinema
2,5
Regular
Invasão a Casa Branca

Ecos do passado

por Francisco Russo

O cinema hollywoodiano sempre precisou de inimigos. Adolf Hitler e os nazistas cumpriram bem esta função, seja nos filmes de propaganda realizados ainda durante a Segunda Guerra Mundial ou em produções mais recentes, como Bastardos Inglórios. O tempo passou, o equilíbrio político de forças mudou e os soviéticos assumiram este posto durante um bom tempo – lembram-se de Ivan Drago, o rival de Stallone em Rocky 4? Quando a União Soviética ruiu, veio o temido poderio econômico dos japoneses e eles logo se tornaram os rivais a serem combatidos, como acontece em Robocop 3. Da década de 1990 para cá a grande ameaça mundial são os terroristas, que agem segundo seu próprio interesse e, às vezes, até possuem uma certa dose de patriotismo (Força Aérea Um, por exemplo). Agora, em plena segunda década do século XXI, a bola da vez é a Coreia do Norte. Um país fechado, sobre o qual poucos sabem, que volta e meia briga com os Estados Unidos no âmbito diplomático e até mesmo com ameaças veladas. O inimigo perfeito para manter a atualidade do mais recente ataque aos Estados Unidos, ao menos no cinema, sem precisar atiçar o constante vespeiro do Oriente Médio.

Invasão a Casa Branca é um filme que reflete muito os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001. Seja por situações parecidas, como a destruição do Monumento a Washington por um avião, ou até mesmo pelo clima de espanto impregnado nos personagens. O súbito ataque em um dia normal, em pleno território americano, por um inimigo até então desconhecido e envolvendo centenas de mortos, tem um quê de masoquismo ao refletir na telona uma das feridas expostas do país, ainda mais em nome do entretenimento. Mas por que isto, pode-se perguntar o leitor. Para dar o troco, ao menos no cinema, de uma forma que a realidade jamais permitiria e deixar o espectador, ao menos o americano, de alma lavada pela honra do país defendida.

O novo filme do diretor Antoine Fuqua tem todas as características de qualquer filme-catástrofe estrelado por Roland Emmerich: símbolos atacados, muita destruição e uma boa dose de patriotismo. A esta fórmula é adicionada uma pitada de redenção, vinda através do personagem principal Mike Banning (Gerard Butler). Afinal de contas, ele carrega o peso de um acidente ocorrido 18 meses antes, no qual a primeira-dama morreu em um acidente de carro. Afastado do serviço secreto presidencial e preso a um trabalho burocrático em escritório, ele não vê a hora de voltar ao antigo posto. Quando percebe que os coreanos estão chegando, é hora dele também partir para o ataque. Não à Casa Branca, mas para recuperar o que havia perdido.

Invasão a Casa Branca pode ser dividido em duas partes, com características bem peculiares. A primeira traz um certo choque pelo poderio do ataque sofrido pela Casa Branca. Chama a atenção a criatividade em como a invasão foi executada e também certos detalhes sobre a própria Casa Branca, em especial seus segredos decorrentes de séculos de história. Já a segunda metade é o típico filme de resgate, onde Mike torna-se a última esperança de salvar a pele dos Estados Unidos. É quando o filme torna-se um genérico de Duro de Matar, mas sem a menor dose de humor. Pelo contrário, o personagem de Butler é raivoso e truculento, sem o menor receio de matar com requintes de crueldade. O típico herói dos dias atuais, ao menos desta América onde os fins justificam os meios.

É inegável que a primeira metade possui mais atrativos, seja pela construção do clima de espanto e também pelos próprios efeitos especiais utilizados. Nada de surpreender, mas cumprem bem sua função. Já a metade final possui vários problemas de roteiro, em boa parte devido aos personagens equivocados de Dylan McDermott e Melissa Leo. Enquanto ele demonstra uma fragilidade absurda para a situação em que está envolvido, ela simplesmente se torna uma histérica patriota. Aliás, patriotismo é o que não falta nesta reta final.

Invasão a Casa Branca é um filme que lida muito com o sentimento de orgulho ferido do americano. Ao recriar situações do 11 de setembro sob outro formato, mas de forma que ele seja claramente identificado, a intenção do diretor é evocar o passado para justificar o que é feito em cena. Algo como uma espécie de catarse que não veio na vida real, ao menos não da forma como a ala americana mais conservadora gostaria. Diante disto, é compreensível tamanho sucesso do filme nos Estados Unidos. No Brasil, pode agradar aqueles que se interessarem apenas pelas cenas de ação, sem se importar com todo o contexto panfletário embutido.