Críticas AdoroCinema
2,0
Fraco
A 5ª Onda

Mais do mesmo disfarçado de novidade

por Renato Hermsdorff

Apresentado como uma ficção científica que não se passa em um universo distópico (numa tentativa clara de diferenciação das sagas Crepúsculo, Jogos Vorazes e afins), surpresa!, A 5ª Onda não é uma coisa, nem outra; é mais do mesmo disfarçado de obra original. Não se deixe enganar pela cena inicial.

De cara, somos apresentados a nossa heroína, Cassie Sullivan (Chloë Grace Moretz), inserida em um cenário de abandono e desolação, na espreita para invadir um minimercado a fim de conseguir o que comer. Lá, ela se depara com um rapaz, caído no chão, mas ainda vivo. Ela pode confiar nele? Não se sabe. E o que o desfecho, impactante, da cena promete, o restante do filme não cumpre.

Voltemos. Do nada, a Terra começa a sofrer uma série de ataques alienígenas, as tais ondas do título. Primeiro, eles, que são chamados de “os outros”, cortam a energia do nosso planeta; depois, mandam um tsunami que dizima boa parte da humanidade; na terceira onda, um vírus é usado para matar ainda mais gente; em seguida, eles se infiltram entre nós, assumindo a forma de gente comum – daí a dificuldade de saber em quem confiar. Para inserir um drama pessoal, Cassie ainda se separa acidentalmente do irmão menor, fazendo do reencontro sua meta.

A primeira metade, em que os personagens e cenários são apresentados, corre morna, mas cumpre a função de introduzir a franquia. Até que as reviravoltas acontecem (ufa!), porém de maneira tão crível quanto topar com uma nota de 30 reais. E, pior, de maneira involuntariamente risível.

Aí, abandona-se a ideia central que, em tese, diferenciaria a nova franquia juvenil baseada em série literária dos exemplos prévios (Divergente, Maze Runner, além, claro, de Crepúsculo e Jogos Vorazes), a saber: a percepção de que a premissa de A 5ª Onda poderia ser algo do nível do real, um fato (ou uma sequência de fatos) que poderíamos enfrentar aqui e agora (e não necessariamente crianças se matando em uma batalha cruel comandada por pessoas em trajes excêntricos ou um vampiro e um lobisomem disputando o amor da garota da porta ao lado).

O filme é baseado em uma série de livros (por enquanto, dois foram escritos e o terceiro volume está para ser lançado) de autoria de Rick Yancey e é a tentativa da Sony de emplacar uma franquia juvenil para chamar de sua.

Quando este fator (que podemos chamar de “realidade”) é tirado de cena, para jogar os personagens em um contexto surreal, o que sobra é o desejo da protagonista de rever o irmão (mais uma vez, a família acima de tudo) e o coração da heroína dividido entre dois rapazes, o crush descolado, colega de escola, Ben Parish (vivido por Nick Robinson, de Jurassic World - O Mundo dos Dinossauros); e o salvador misterioso do meio da floresta Evan Walker (o pouco conhecido Alex Roe).

Trata-se de um fim do mundo sanitarizado, em que acaba a energia elétrica, mas não falta um estojo de maquiagem (um exemplo é a caracterização exagerada da personagem de Maika Monroe, excelente atriz de Corrente do Mal, subaproveitada aqui) ou a maneira como se desenvolve a relação de Walker e Cassie.

E o que era para ser um excitante sci-fi contemporâneo descamba para o clichê do melodrama adolescente. Sobra para o espectador a impressão de já ter visto esse filme antes. E já viu mesmo. Como derrotar os ET´s? e quem vai ficar com Cassie? São cenas para os próximos capítulos.