Críticas AdoroCinema
3,0
Legal
Jorge Mautner - O Filho do Holocausto

Filme-homenagem

por Bruno Carmelo

Confesso que antes de assistir ao filme, não tinha a menor ideia de quem era Jorge Mautner. Mas este documentário saciou rapidamente a minha curiosidade, explicando desde as primeiras cenas como os pais deste artista vieram ao Brasil, qual a relação deles com a Segunda Guerra Mundial (justificando o subtítulo "O Filho do Holocausto") e enfim, o ambiente em que o garoto foi criado.

Em sua essência, Jorge Mautner – O Filho do Holocausto é um documentário bastante convencional. Ele narra a evolução artística de seu protagonista de maneira linear, com narração em off, depoimentos e material de arquivo. Como se trata de um músico, também são exibidas performances, antigas e atuais, de suas principais canções. O tom congratulatório está sempre presente, já que a intenção não é questionar ou criticar Mautner, apenas exaltar um artista que mereceria maior reconhecimento popular, segundo os diretores.

A surpresa diante desta produção vem menos do conteúdo do que da forma: para ilustrar a vida de um homem multifacetado e lúdico, os diretores Pedro Bial e Heitor D'Alincourt optaram por uma estética igualmente multifacetada e lúdica. Na prática, isso se traduz em uma imagem de excessos: existem muitos movimentos de câmera durante as interpretações, muitas fontes de luz, muitos entrevistados, muitos objetos de cores e texturas diferentes, dispostos em um cenário de maneira barroca e kitsch.

Também existe Mautner demais, em diversos níveis de representação e de metalinguagem. Em alguns momentos, o artista lê sua autobiografia para as câmeras, em outros, um grupo de músicos famosos (Gilberto Gil, o onipresente Caetano Veloso) tece elogios a Mautner, diante de Mautner. A filha de Mautner relembra o passado do pai diante dele, Pedro Bial faz perguntas a Mautner em cena, sendo cortado por imagens de arquivo de Mautner. Todos os recursos possíveis e imagináveis são intercalados em ordem caótica e voluntariamente redundante. Este filme funciona como um caldeirão, uma espiral que sai de Mautner para chegar... a Mautner.

De um ponto informativo, o filme cumpre o seu papel, além de ser divertido e agradável de assistir. Ele consegue cobrir todas as atividades do artista, de compositor a poeta, passando pela experiência como cineasta (com O Demiurgo), além de extrair bons depoimentos de seus convidados. Faltam apenas a Bial e D'Alincourt um certo recuo em relação ao personagem e uma estética mais concisa, mais homogênea, que não chame tanto a atenção para si mesma. Afinal, é possível ser simples mesmo quando se representa uma figura complexa como Jorge Mautner.