Críticas AdoroCinema
3,0
Legal
O Palácio Francês

Para brasileiro ver

por Renato Hermsdorff

Arthur Vlaminck (Raphaël Personnaz) parece ser o cara errado no lugar errado. Desleixado, ele precisa da ajuda da namorada, a professora Marina (Anaïs Demoustier) para se vestir para a entrevista de emprego com o ministro das relações exteriores, Alexandre Taillard (Thierry Lhermitte). Apesar do sapato gasto, em contraste com a opulência do Quai d'Orsay (prédio que dá nome ao filme), ele consegue o cargo – que nem queria tanto assim.

É quando começa a jornada de Arthur, recém formado na Escola Nacional de Administração, no serviço público. Ele acaba escalado para o setor de Linguagem – não adianta perguntar, porque nem mesmo o personagem sabe, em princípio, do que se trata o setor. Mas, no fim das contas, o rapaz é incumbido de escrever o discurso do ministro para a reunião do Conselho de Segurança da ONU, em Nova York.

No filme de Bertrand Tavernier, para além do temperamento volúvel do ministro, que cita frequentemente palavras de efeito como responsabilidade, união e eficiência, Arthur tem que lidar com a opinião – não menos volúvel – dos diretores, assessores e, para cada região do mundo, há um conselheiro específico. É aqui que entra Julie Gayet, por exemplo. A atriz, que foi indicado César de coadjuvante pelo longa-metragem, viria ao Brasil para participar dos eventos de lançamento, mas enfrentou problemas com um filme que está produzindo e, infelizmente, não pôde vir. O veterano Niels Arestrup (de Cavalo de Guerra) merecidamente ganhou o César de melhor ator coadjuvante – e o filme ainda recebeu uma indicação pelo roteiro, adaptado.

Com um elenco numeroso e afinado, é na figura do hiperativo ministro incorporado por Thierry Lhermitte que reside o mérito do filme. Fã de citações, ele vai do pré-socrático Heráclito (seu preferido, autor das frases que pontuam o ritmo do filme, exibidas em cartelas) a... Tintim, o personagem do quadrinista belga Hergé – sendo esta a cena mais ousada do ponto de vista técnico, com uma montagem metalinguística conduzida pela fala do personagem.

Embora a agilidade da montagem seja um mérito, certamente, de O Palácio Francês, o ritmo do filme pode entediar o espectador, com situações um pouco repetitivas. Os conflitos surgem e desaparecem sem muitas explicações, de modo toda a ação dramática funciona para explorar o perfil dos personagens. No fim, uma comédia inteligente sobre a burocracia e o non sense dos bastidores do poder que pode gerar uma empatia por parte do público brasileiro.