Críticas AdoroCinema
4,0
Muito bom
Como Não Perder Essa Mulher

O amadurecimento pelo sexo

por Francisco Russo

Esqueça o péssimo título nacional Como Não Perder Essa Mulher, que passa a impressão de ser este algum genérico de American Pie, onde os garotos estão apenas interessados em correr atrás de mulheres. Não que isto não aconteça neste filme, mas na verdade esta busca é um pano de fundo para chegar a uma questão bem mais profunda: o amadurecimento nos relacionamentos, sob a ótica masculina, tendo a pornografia como rito de passagem. Uma proposta ousada encarada com habilidade por Joseph Gordon-Levitt, que não apenas estrela o longa-metragem como também estreia como roteirista e diretor.

A história acompanha Jon (Gordon-Levitt), um jovem solteiro que mora sozinho e leva a vida que quer. Sem problemas financeiros, ele se orgulha do apartamento em que mora e de poder pegar a mulher que deseja. Não é a toa que seu apelido é Don Jon – o título original do filme -, já que ao soltar seu olhar 43 ele fatalmente conquista a beldade do momento, devidamente qualificada através de pontuações dadas por ele e seus amigos. Até que, um dia, surge a mulher nota 10: Barbara (Scarlett Johansson). O problema: eles até trocam uns amassos na boate em que se conhecem, mas ela se recusa a algo além disto – o que deixa Jon no mais puro desespero. É quando ele percebe que, para conquistá-la, precisará mudar seu habitual jogo de sedução – mas sem deixar de lado o vício não assumido nos vídeos pornôs que assiste na internet.

Como Não Perder Essa Mulher pode ser dividido em duas partes, correlacionadas mas bem distintas. A primeira segue a descrição acima e é focada principalmente no jogo amoroso existente entre homens e mulheres, onde ambos buscam direcionar o relacionamento para o caminho que desejam. Neste aspecto é importante ressaltar o acerto na escalação de Scarlett Johansson, por ser a representação do ideal de sensualidade entre as atrizes de Hollywood na atualidade – algo como foi Marilyn Monroe décadas atrás. Bem editado e repleto de diálogos picantes – alguns bem explícitos -, o filme é um retrato dos relacionamentos modernos que diverte em momentos antológicos como a análise sobre o que é o cinema para homens e mulheres, os variados encontros de Jon com sua família e suas confissões na igreja.

Entretanto, é na segunda parte que o filme surpreende bastante ao adquirir grandiosidade. Tendo por base a questão do pornô, a história caminha buscando o amadurecimento emocional de Jon. O sexo é usado como meio de compreensão do que é um relacionamento amoroso de fato, mostrando o quão dispensáveis eram todos os questionamentos exibidos na metade anterior – e que retratam tão bem a passagem da adolescência para a vida adulta.

Diante da saga vivida por Jon, Como Não Perder Essa Mulher deixa de ser uma mera busca pela mulher ideal para se tornar um meio de compreender melhor o aspecto emocional inerente a um relacionamento, não apenas de sua companheira mas também de si próprio. A grande habilidade de Joseph Gordon-Levitt foi mostrar todo este percurso abordando temas sensíveis, que podem até causar um certo preconceito de quem o julga de antemão. Por mais que tenha diversas sequências de filmes pornô – devidamente editadas e com trechos desfocados para não ser tão explícito assim, apesar de ser impossível não entender o que está acontecendo -, o filme é bem mais profundo do que se possa imaginar a princípio, sem jamais perder o lado sarcástico e até crítico sobre os relacionamentos modernos. Trata-se de uma grata surpresa que, ainda por cima, oferece ao público a chance de rever em cena Tony Danza, astro da clássica série de TV Who’s the Boss?. Muito bom.