Críticas AdoroCinema
1,5
Ruim
Hotxuá

A Força do Sorriso

por Francisco Russo

Rir faz bem à saúde. Se você pensa que esta seja alguma recomendação médica para atenuar os efeitos do stress no mundo moderno, está bem enganado. O povo krahô já sabia disto há bastante tempo. Tribo indígena localizada no estado do Tocantins, os krahô possuem em sua organização interna a curiosa figura do hotxuá, pessoa responsável por fazer rir. Sim, é isto mesmo. Não é à toa que, como o filme informa logo no início, seus integrantes são conhecidos por rir muito.

O hotxuá é uma espécie de bobo da corte da aldeia. Tem como função principal divertir os demais integrantes e deixar todos, crianças e adultos, de bom humor. Para tanto vale brincar com as tintas usadas na pintura do corpo, com a própria comida, fazer cócegas e até mesmo se vestir de mulher, usando um sutiã pouco convencional para a vida indígena – reflexo do contato com o homem branco, é claro. É, dentro da hierarquia da tribo, alguém com funções pré-definidas, assim como o pajé e o cacique. Cabe a ele também transmitir aos mais jovens histórias da cultura krahô, perpetuando o ensinamento de séculos.

A presença desta função tão exótica dentro da cultura indígena como um todo é o que há de atraente em Hotxuá, o filme. O problema é que, passado os minutos iniciais onde o personagem e sua função dentro da aldeia são apresentados, o filme empaca. Nada mais acontece. O longa se repete em cenas retratando a aldeia, muitas com câmera na mão e até visualmente belas, mas sem avançar muito na proposta original. Conhecer e ver o hotxuá brincando com todos é bacana, mas apenas acompanhar isto torna-se cansativo.

Já na reta final os diretores Gringo Cardia e Letícia Sabatella tentam uma última cartada ao inserir na aldeia um palhaço convencional, destes de circo. O encontro entre o civilizado e o indígena é interessante pela diferença cultural entre eles, que não os impede de conversar na linguagem que melhor conhecem: o riso. Entretanto, mais uma vez a repetição se impõe e a boa ideia também logo se torna cansativa.

Hotxuá é um documentário bem produzido que traz algo de novo - a figura do hotxuá - sobre um tema já batido - a cultura indígena. Entretanto, peca por não ir além da mera exibição de cenas entre os habitantes do povo krahô. Caso fosse mais ambicioso, talvez até com explicações formais de estudiosos sobre a existência de tal personagem, seria mais interessante e menos cansativo. De toda forma, chama a atenção para - mais uma vez - ressaltar a importância do riso na sociedade.