Críticas AdoroCinema
1,0
Muito ruim
Família Vende Tudo

Família Torta

por Francisco Russo

O brasileiro tem a fama de, na hora do aperto, encontrar um jeito para resolver seus problemas. É desta forma que muitas famílias sobrevivem no dia a dia, na corda bamba entre o dinheiro que recebe e as contas a pagar. A família encabeçada por Ariclenes (Lima Duarte, à vontade) não é diferente. Enquanto ele, a esposa e a filha partem para o Paraguai em busca de muamba para revender, os filhos que permaneceram no país vendem os produtos no camelô. Apesar de servir de meio de subsistência, a ilegalidade tem um preço e eles pagam caro. Resultado: ficam sem dinheiro e mercadoria. O que fazer?

A resposta é fácil e óbvia, ao menos na mente desta família torta. Nada de procurar algum tipo de trabalho, o jeito é preparar um novo golpe. Maior do que todos os já realizados, visando uma destas subcelebridades que rodam país afora: Ivan Carlos (Caco Ciocler, bem caracterizado), o rei do xique, ritmo chiclete que está na moda. Como? Colocando a filha Lindinha (Marisol Ribeiro, sem sal) para ter relações sexuais com o “astro”, bem naquele dia onde a fertilidade está em alta. Ou seja, o bom e velho golpe da barriga.

Família Vende Tudo conta com bons personagens populares, que individualmente possuem brilho pelo raciocínio inusitado e, ao mesmo tempo, com uma lógica própria. O grande problema é o modo como o roteiro desenvolve a história, abusando de situações artificiais e piadas tolas, algumas até mesmo infames. Afinal de contas, o que dizer da tentativa de sedução lésbica envolvendo as personagens de Luana Piovani e Juliana Galdino? Ou ainda da pérola dita por Ivan Carlos a uma de suas fãs, “dando para ele é como se estivesse dando para mim”? Cretinice pouca é bobagem.

Além disto, o filme conta com cenas inteiras mal fundamentadas, como se fossem ideias soltas no roteiro. A falta de coesão atrapalha o bom andamento da história e o desenvolvimento dos personagens, especialmente o interpretado por Caco Ciocler. Seu Ivan Carlos tem luz própria e diverte, mas se perde em meio a tantos rumos que a trama segue. O melhor exemplo é o programa de TV apresentado por Beatriz Segall, boa sátira ao ridículo da televisão em certos casos. Apesar de ser apresentado por um motivo, logo o próprio programa segue outro rumo, sem a menor ligação com a intenção original. Em meio a tantas pontas soltas no roteiro salvam-se algumas boas sacadas, como a breve participação de Marisa Orth e a brincadeira com a revista Contigo.

Família Vende Tudo traz uma ideia com potencial, só que mal explorada. Em parte por atuações pouco convincentes, como de Marisol Ribeiro, mas principalmente devido ao roteiro frouxo. A imensa quantidade de situações mal resolvidas e piadas que não fazem rir põem por terra qualquer esperança de ver um bom filme.