Críticas AdoroCinema
2,0
Fraco
Billi Pig

Balaio de gatos

por Francisco Russo

Pegue um porco falante, junte uma pitada de musical e outra de picaretagem religiosa, tudo ao típico molho do subúrbio carioca. É assim, com uma receita cheia de ingredientes exóticos, que se fez Billi Pig. Uma comédia com poucos momentos realmente engraçados, que se perde principalmente pela mistura pouco convincente de seus principais elementos.

A história começa com o casal Wanderley (Selton Mello) e Marivalda (Grazi Massafera), que está em crise. Financeira, pois a seguradora dele mal tem clientes, e amorosa, já que ela está frustrada por não ter realizado seus sonhos de glamour. Para cutucar ainda mais a relação dos dois há Billi, o porco de brinquedo com o qual Marivalda costuma conversar regularmente. Um dia, para surpresa geral, ele fala – e muito. Passa a influenciar sua dona, insistindo que ela precisa largar o marido para alcançar o status que merece. É o fantástico interferindo na vida real.

O problema não é exatamente no uso do lado fantasioso que é conversar com um porco de brinquedo, mas no modo como a brincadeira é empregada. De figura importante na história pouco a pouco Billi perde espaço, até quase desaparecer. É quando ascende outra faceta da trama, a do picareta. Precisando de dinheiro a todo custo, já que corre o risco de perder a mulher, Wanderley elabora um plano para enganar um traficante de drogas em crise, cuja filha está em coma. Para tanto ele conta com a ajuda do padre Roberval (Milton Gonçalves), famoso nas redondezas por realizar milagres. Tudo conversa fiada. Apesar de temente a Deus, Roberval possui um histórico de golpes e pecados que o deixam longe de ser uma pessoa em quem se possa confiar. Entretanto, sua figura é essencial para que o golpe seja aplicado.

A migração do lado fantástico para o trapaceiro é feita no sentido de uma suprimir a outra dentro da história como um todo. Em meio a esta transição há ainda algumas apostas inusitadas, como a presença de um número musical, piadas sarcásticas pelo contraste do que se imagina ser a postura de um traficante e o modo como ele age, aparições fantasmagóricas e até mesmo algumas baixarias, vindas das duas secretárias de Wanderley – aliás, por que duas? Toda esta mistura faz com que Billi Pig jamais tenha seu foco definido, sendo uma verdadeira metralhadora em busca de alvos que possam ser atingidos. Infelizmente, poucos acertam.

Em relação ao elenco, quem se sai melhor é Mílton Gonçalves. Sua cena imitando o sotaque americano é das poucas que fazem rir. Selton Mello surge pouco inspirado, enquanto Grazi Massafera interpreta uma personagem não muito diferente do que realmente é. Quem brilha, apesar de ter pouco espaço em cena, é Milhem Cortaz, pela composição de um personagem bastante diferente do usual.

Billi Pig é um filme ousado ao tentar fazer algo diferente das comédias brasileiras usuais, que em boa parte segue o padrão televisivo com piadas mais pesadas, mas fracassa por não conseguir desenvolver bem nenhuma das propostas lançadas. Acaba sendo um balaio de gatos, onde se pode encontrar de tudo um pouco. Fraco.