Sonho e Realidade
por Francisco RussoTodos sonham em trabalhar naquilo que gostam. Nem todos conseguem, mas lutar é preciso nem que seja apenas para minimizar, um pouco que seja, o sentimento de frustração. A grande questão é até que ponto se arriscar, sem perder o mínimo de realidade. Quando o sonho deixa de ser viável e se torna uma mera ilusão, sem perspectiva concreta de futuro. Quando a realidade bate à sua porta, repleta de contas cobradas pelo simples ofício de viver. O que fazer nesta corda bamba? É este o dilema de Bianca, personagem principal do contundente Riscado.
Bianca sonha em ser atriz, mas, sem espaço, pega todo e qualquer bico para sobreviver. A cena de abertura é emblemática, quando aparece diante de uma loja, liderando uma banda em plena rua, cantando um jingle ridículo. Seu principal trabalho é se vestir como grandes estrelas, como Carmen Miranda e Betty Page, e fazer breves apresentações em pequenas festas. Ao menos é a chance de interpretar, ela pensa, enquanto segue a rotina de testes para peças e filmes. Um dia, tudo parece mudar.
O sonho se torna realidade quando um diretor estrangeiro se interessa pela vida de Bianca e deseja levá-la para as telas de cinema. Com a própria como protagonista. Hora de vibrar, mais do nunca, já que todo o sacrifício valeu a pena. Hora também de fazer planos, sonhar com uma vida melhor. Entrevistas ainda são novidade, mas aos poucos ela entra no ritmo. Só que a realidade, mais uma vez, bate à porta. De forma mesquinha, como por vezes ela se apresenta.
Riscado é um filme sobre sonhos, representados na dura realidade de ser ator. O universo que cerca Bianca é típico daqueles que começam por baixo, sem o famoso “quem indica”, e tem apenas a própria garra como cartão de visitas. Uma realidade que está em todo lugar, nas mais diversas áreas, vivida por pessoas que batalham dia após dia para trabalhar naquilo que gostam. Destaque para a bela atuação de Karine Telles, intérprete de Bianca, especialmente na cena em que aparece pela primeira vez como Marilyn Monroe. O olhar que solta ao espectador é de arrepiar.