Beabá
por Francisco RussoPara se desenvolver de forma plena e consistente, o cinema brasileiro precisa ocupar espaços. Ficar não apenas na comédia e no drama, mas investir também em gêneros pouco explorados por aqui, como terror, suspense e ficção científica. Neste sentido, Área Q é uma tentativa válida. Afinal de contas, traz para a realidade brasileira o batido tema dos seres alienígenas que, de alguma forma, visitam e interferem na vida humana. A grande questão é que, como cinema, Área Q é muito ruim. Por vários motivos.
O principal deles é a ingenuidade, tanto na história em si quanto na linguagem cinematográfica. O enquadramento utilizado e o modo como a história é conduzida são extremamente simplórios, assim como o uso de uma trilha sonora maniqueísta para criar uma suposta emoção. Fora os risíveis efeitos especiais, compostos basicamente por jogos de luzes, numa vaga alusão aos extra-terrestres de Contatos Imediatos de Terceiro Grau. Steven Spielberg, por sinal, chega a ser citado no filme, como autor de histórias tipo a exibida no próprio Área Q. Mera comparação gratuita no intuito de valorizar o que está na telona.
A trama começa em 1979, quando alienígenas jamais vistos capturam o fazendeiro João Batista (Murilo Rosa) na pequena Quixadá, no Ceará. Ele retorna tempos depois, com poderes que o tornam uma lenda local. Duas décadas depois, chega à cidade o jornalista americano Thomas Matthews (Isaiah Washington). Sofrendo pelo súbito desaparecimento de seu filho, ele foi enviado para investigar as supostas aparições de OVNIs em Quixadá. Sua missão é desmascarar a fama do local, mas aos poucos ele percebe que os relatos têm fundamento e, mais ainda, possuem relação com seu filho.
Com uma história já vista em inúmeros filmes, Área Q apresenta uma mistura de ficção científica com drama pessoal, tendo ainda um toque envolvendo religião. Afinal de contas, João Batista, na história bíblica, é o nome do profeta que anuncia a vinda do messias. Não foi à toa que o personagem de Murilo Rosa também recebeu este nome, numa tentativa de colocar os extra-terrestres – ou seja lá quem forem, já que o filme jamais deixa claro – como os salvadores da humanidade. O motivo de tamanho esforço? Manter os recursos naturais da Terra, vitais para a harmonia do universo. É assim, com uma mensagem ecológica que soa mais como desculpa esfarrapada, que o principal tema do filme é justificado.
Área Q é um filme tedioso cuja trama é tão arrastada que logo se torna um martírio ao espectador. O elenco inteiro está caricato, com destaque negativo para Tânia Khalil, perdida em meio a tantas caras e bocas. O filme apenas consegue chamar a atenção através de algumas citações à cultura pop, como Homens de Preto e Erin Brockovich, mais pelo insólito do uso do que propriamente por sua qualidade. Péssimo!