Críticas AdoroCinema
3,0
Legal
Assalto ao Banco Central

NÃO É UMA ROUBADA

por Roberto Cunha

É bom ver o cinema brasileiro pegando gosto pelos filmes de ação e melhor ainda perceber que o público está comprando cada vez mais essa  ideia de enfrentar o poderio dos gringos. A tarefa não é fácil, mas bons exemplos, como Cidade de Deus e os dois Tropa de Elite estão aí para provar que é possível. Inspirado no verdadeiro - e milionário - roubo ocorrido no ano de 2005, em Fortaleza, cujo desfecho saiu nos principais noticiários do país, o roteiro de Assalto ao Banco Central importou ingredientes e tratou de dar uma mexida na história para driblar a previsibilidade, criando assim uma versão "tropical" de Onze Homens e Um Segredo.

Na trama, um grupo liderado por Barão (Milhem Cortaz) planeja e executa o crime, mas acaba caindo nas garras de uma dupla de agentes federais (Giulia Gam e Lima Duarte). A narrativa não é linear e saiu mesclando cenas de ação no passado com interrogatórios e pesquisas no presente, à la C.S.I. e Law & Order (seriados americanos). O recurso, que confunde no início, depois até funcionou direitinho. O elenco deu conta do recado sem maiores destaques e Marcos Paulo, egresso da televisão e estreando no cinema, cumpriu a missão. Entre muitos pontos que poderiam ter sido evitados, os trejeitos de Sinhozinho Malta não fariam a menor falta, assim como o conflito amoroso da agente vivida por Gam. Porque se a intenção era tocar num tema polêmico (lesbianismo), o que se viu foi um pretexto para a namorada do diretor fazer um saque, quer dizer, ponta desnecessária.

Visivelmente focado no segmento popular, o texto não se preocupou em rebuscar palavras e apela o tempo todo para ditados e frases de efeito, o que soa coerente com os criminosos e a linguagem das ruas. Em função disso, os diálogos são rápidos e rasteiros, enxertando sempre que possível doses de humor, criticando a política, o sistema financeiro e até as doações para pastores de origem duvidosa. Rende, mas a taxa é de poupança. Com uma pitada de sensualidade e de violência, duas cenas neste contexto citam referências bem conhecidas: uma roupa que parece ter saído do figurino de Sônia Braga em O Beijo da Mulher-Aranha (1985), e uma cena típica do cineasta John Woo (A Outra Face), com personagens apontando armas um contra o outro. O detalhe cômico foi a interrupção dessa sequência com acordes de faroeste e o vilão (Cortaz), abrindo a porta no melhor estilo saloon.

O maior problema do filme, talvez, seja a rapidez com que as coisas acontecem. Produzido pela mesma equipe dos sucessos Divã e Se Eu Fosse Você, Assalto ao Banco Central tem elementos de sobra para agradar um bocado de gente, mas vai ter outro tanto apontando detalhes aqui e acolá (eles existem). Contudo, entre mortos e feridos, o resultado final chega a compensar e o filme não chega a ser uma roubada.