Críticas AdoroCinema
1,5
Ruim
Zenitram

Super-herói Argentino

por Francisco Russo

Os super-heróis estão em alta, como confirmam os vários filmes do gênero lançados todos os anos. E se, em meio aos Batman e Homem-Aranha da vida, surgisse um vindo do lugar mais improvável possível, o bairro mais pobre de Buenos Aires? Esta é a premissa de Zenitram, comédia argentina bem intencionada que está em exibição no Festival do Rio 2010.

A história se passa em 2025. A água argentina foi privatizada e agora é de posse da Waterway, megaconglomerado empresarial que possui seus tentáculos no governo. Até mesmo para abrir a torneira de sua casa é preciso passar uma espécie de cartão de crédito. A situação, aliada aos 275 dias sem chuva, faz com que a falta de água se torne um problema sério para o país. É neste ambiente que Rubén Martínez (Juan Minujín, compondo bem o zé ninguém hermano), sem grandes explicações, é informado de que possui grandes poderes. E, para tê-los, basta segurar os testículos e gritar seu nome ao contrário. Zenitram!

Com uma trama destas, é redundante dizer que tudo é uma grande piada em cima das histórias e filmes de super-heróis. Zenitram é um herói atrapalhado, que mal sabe usar seus poderes e ainda por cima tem medo do público. Para tanto precisa da ajuda de um jornalista, que está de olho na alta quantia em dinheiro que pode ganhar e serve como uma espécie de tutor. Só que, ingênuo, é facilmente manipulado pelos interesses do governo e da Waterway, que passam a explorar em proveito próprio o simbolismo em torno do primeiro super-herói argentino, aquele que inspira crianças e adultos. E, é claro, o mantém longe da oposição.

O grande problema do filme é, na verdade, também uma piada. Se os filmes de super-heróis são sempre feitos com altíssimos orçamentos, que permitem a utilização do que há de melhor em efeitos especiais, aqui ocorre exatamente o contrário. Zenitram é um filme com seríssimas restrições orçamentárias, o que torna todas as cenas em que seus poderes são demonstrados bastante pobres. As cenas de voo, por exemplo, são nitidamente montagens dos atores sobre o céu, sem nem tentar disfarçar. Truques com o posicionamento das câmeras, de forma a não mostrar a cena como um todo, também são bastante usados. E isto acaba limitando o próprio roteiro, que é obrigado a criar situações para um super-herói em que seus poderes sejam pouco ou não explorados.

Ainda assim, há belas tiradas. Como o uniforme de Zenitram com as cores do Boca Juniors, visando uma maior popularidade, ou o uso de cocaína para perder o medo do público. É isso aí, Zenitram é um super-herói viciado e isto traz consequências importantes dentro da história. No fim das contas, trata-se de um filme bem intencionado, que provoca algumas risadas, mas que não consegue decolar de vez graças às suas próprias limitações orçamentárias. Vale ver porque muito dificilmente entrará em circuito comercial, mas não espere muito. Apenas razoável.