Críticas AdoroCinema
3,0
Legal
A Casa de Sandro

Uma visita

por Lucas Salgado

Sandro Donatello Teixeira é um pintor e professor nascido no Rio de Janeiro em 1945. Teve seu primeiro contato com a arte no ateliê do pai, o pintor Oswaldo Teixeira, e em 1967 viajou para a Europa, onde completou sua formação. Desde 71 atua no cenário artístico do Brasil participando dos principais salões de arte e exposições coletivas. A Casa de Sandro é um documentário sobre Sandro Donatello Teixeira, mas se você queria saber informações como as dadas acima, este não é o filme para você. Mas se, por outro lado, desejar entender um pouco mais sobre a essência deste artista e o ambiente que o envolve, este é o lugar.

É muito elitista dizer que este filme não é para qualquer pessoa, mas deve-se ressaltar que, de fato, é uma produção que exige não apenas uma sensibilidade artística, mas principalmente a disposição de se entregar à obra.

A sinopse oficial do longa avisa: um vídeo de visita. E esta descrição não poderia ser mais precisa. Trata-se de uma visita à casa de Sandro, que é retratada de forma inusitada e, até por isso, especial por Gustavo Beck. O jovem diretor optou, na maioria das tomadas, por manter a câmera distante do objeto do documentário, contando inclusive quase sempre com objetos entre os dois. Folhas, portas e janelas são algumas das coisas que ficam entre a câmera e Sandro, mas sem em momento algum deixar de capturar a essência daquele momento. No mesmo caminho, opta-se pela utilização do som ambiente, com a natureza ganhando muito mais destaque do que as falas do artista.

A tomada afastada não é uma novidade na cinematografia de Beck, que já havia feito isso no documentário Chantal Akerman, de cá, codirigido por Leonardo Luiz Ferreira. A diferença é que em A Casa de Sandro a câmera não é fixa, embora os movimentos sejam tão sutis que passam a impressão de que tudo está parado.

A tal "casa de Sandro" é quase que um refúgio da sociedade. Um lugar cercado de verde cuja rotina só é atrapalhada por eventuais visitas e pela equipe de filmagens. Esta última, por sinal, também é um dos destaques da produção. Não apenas por ser diretamente responsável pela realização de um ótimo filme, mas principalmente por exercer uma função participativa na história.

A participação da equipe também acontece de forma sutil, dando tempo ao espectador de se acostumar com ela. Inicialmente, surge como um choque quando a câmera se desloca de Sandro em seu jardim para pegar o fotógrafo still Álvaro Riveros. A cena seguinte já mostra o artista e o fotógrafo caminhando lado a lado na chuva, mostrando que tudo aquilo era mais do que natural. Depois nos deparamos com uma tomada parada da kombi da equipe de gravações e no final estamos tão acostumados com tais interveções que a sensação não é de ser jogado para fora do filme, mas sim de ser cada vez mais abraçado por ele.

Produzido em 2009, A Casa de Sandro chega aos cinemas após passar dois anos no circuito dos festivais. E é muito bom ver uma produção como esta entrando em cartaz. O cinema documental brasileiro é um dos mais ricos do mundo, mas nos últimos anos vem caindo na fórmula comum de "muitos depoimentos + edição frenética". Sem se utilizar de nenhum desses elementos, Beck realizar um retrato muito fiel do artista, sendo difícil imaginar que entrevistas com críticos de arte ou outros colegas de profissão fossem capazes de capturar tão bem sua realidade.