Críticas AdoroCinema
2,5
Regular
A Sorte em Suas Mãos

Preso aos clichês

por Francisco Russo

Daniel Burman faz parte de um seleto rol de diretores argentinos que, independente do elenco de seus novos filmes, consegue distribuição nos cinemas brasileiros - inclua nesta lista Juan José Campanella, Pablo Trapero, Lucrecia Martel e olhe lá! Tudo graças ao prestígio conquistado ao longo da última década, que inclui o premiado O Abraço Partido, o bom Ninho Vazio e os divertidos Dois Irmãos e As Leis de Família. Em todos estes trabalhos, uma característica que salta aos olhos é a valorização do conceito de família, seja ela a partir de irmãos, mãe e filha ou simplesmente um casal. Burman gira sempre em torno deste tema, temperando-o de forma mais amena ou incisiva mas jamais deixando de salpicá-lo em suas história. O mesmo acontece em A Sorte em Suas Mãos.

Curiosamente, o protagonista é justamente um cara que está farto de ter uma família. Pai de duas filhas e separado, Uriel (Jorge Drexler) quer mais é curtir a solteirice e fugir das mulheres que já têm filhos ou que têm pretensões em ter um no futuro. Para se prevenir de eventuais surpresas, ele está até mesmo disposto a se submeter a uma vasectomia. Viciado em pôquer, é num cassino que ele reencontra Gloria (Valeria Bertuccelli), uma ex-namorada com quem logo flerta. Só que o namorico não engrena de imediato e, como em toda boa comédia romântica, ambos enfrentarão uma série de complicações antes do aguardado final feliz.

O lado família de A Sorte em Suas Mãos vem justamente pelo lado de Gloria, mais especialmente seu relacionamento com a mãe. É este também o lado prazeroso do filme, muito graças à presença espirituosa de Norma Aleandro. As desavenças e os momentos de cumplicidade entre as duas são, de longe, o que o filme oferece de melhor, muito graças a dois problemas sérios: a obviedade atroz do roteiro, não apenas em relação aos eventos que estão por vir mas especialmente os estereótipos em torno dos personagens, e a atuação de Drexler. Músico renomado e detentor do Oscar de melhor canção original por "Al Otro Lado del Rio", presente na trilha sonora de Diários de Motocicleta, Drexler demonstra que da arte da atuação entende pouco. Seu Uriel é pouco expressivo, por mais que o personagem tenha até um lado interessante pelas mentiras sobre si mesmo que constantemente fala aos outros, fruto de pura insegurança.

Como um todo, A Sorte em Suas Mãos é um filme leve que, por mais que seja redundante e óbvio, não agride. É de longe o trabalho mais simplista do diretor, não apenas pela história presa aos clichês da comédia romântica mas especialmente pela fragilidade de elenco, em muito ocasionada pela escolha de Jorge Drexler como protagonista. Para ver, passar o tempo e esquecer sem muito esforço.