A imaginação encontra o romance
por Lucas SalgadoExatos dez anos após Simplesmente Amor, o diretor Richard Curtis surge com mais uma deliciosa comédia romântica. Trata-se de Questão de Tempo, longa inteligente, divertido e bonito, além de muito original. Em tempos de Katherine Heigl e Jennifer Aniston como ícones de comédias românticas, o britânico opta pela beleza delicada de Rachel McAdams e pelo timing cômico do simpático, mas esquisito Domhnall Gleeson.
Responsável pelos roteiros de Quatro Casamentos e Um Funeral, Um Lugar Chamado Notting Hill e O Diário de Bridget Jones, Curtis prova mais uma vez que sabe escrever um bom e criativo romance. Se Questão de Tempo não chega a atingir o nível das produções citadas, ao menos diverte e encanta seu espectador.
Como nos filmes anteriores, Curtis também insere o drama como elemento para a condução de uma narrativa cômica, o que dá ao longa uma autenticidade impressionante. O fato de não estarmos diante de um galã também colabora para isso. Gleeson é um sujeito comum, é qualquer um de nós. Com isso, entramos de cabeça em sua tentativa de conquistar uma linda garota.
Tim (Gleeson) é um sujeito que ao completar 18 anos recebe a notícia do pai (Bill Nighy) de que os homens de sua família conseguem voltar no tempo, mas dentro apenas de suas realidades. Assim, o jovem passa a utilizar o "poder" para um objetivo simples: conquistar um grande amor. Após deixar o interior da Inglaterra a caminho de Londres, ele vive o dia a dia de um advogado na capital. É quando conhece Mary (McAdams).
A naturalidade dos protagonistas faz com que o espectador torça por Tim e se apaixone por Mary. O elenco de apoio também ajuda, com boas presenças de Lindsay Duncan, Vanessa Kirby e do falecido Richard Griffiths.
Como nos trabalhos anteriores de Curtis, About Time (no original) conta com uma extraordinária seleção musical. A trilha traz nomes como The Killers, Dolly Parton, t.A.T.u., The Cure, Amy Winehouse, Nick Cave, Ashanti e Jimmy Fontana.
O filme possui alguns problemas, sendo o ritmo o mais sério deles. Os 123 minutos de duração pesam um pouco e a impressão que fica é que poderia ter perdido menos tempo em histórias paralelas como da irmã de Tim e um ex-interesse amoroso. Ainda assim, oferece momentos de extrema beleza. Não apenas diante da paixão entre Tim e Mary, mas também ao explorar o relacionamento do primeiro com seu pai. Bill Nighy rouba a cena quando aparece, sempre com seu estilo de veterano despojado, mas ainda assim reflexivo.
Um mérito da produção é abraçar a noção de viagem no tempo de forma criativa e natural, sem fazer disso algo extraordinário. É apenas a realidade dos homens daquela família e não algo que surge de uma experiência científica ou picada de aranha. A força da imaginação é o combustível para a história.