Críticas AdoroCinema
2,0
Fraco
Onde Está Segunda?

Ambiente desperdiçado

por Francisco Russo

Raros são os filmes onde se pode reconhecer com tamanha nitidez seu foco principal já a partir do título. Por mais que traga como pano de fundo uma interessante ficção científica distópica com um pé na realidade, Onde Está Segunda? na verdade pouco se interessa em dissecá-la. O objetivo maior é explorar a ação a partir do mistério escancarado na literalidade de seu título, aflição esta dividida entre seis irmãs gêmeas que, reclusas, precisam encontrar um meio de sobreviver em um mundo que as condena. Detalhe: todas são interpretadas por Noomi Rapace (Prometheus, Os Homens que Não Amavam as Mulheres), que aqui aparece no melhor estilo Orphan Black.

De certa forma, as qualidades e problemas do longa-metragem podem ser representados tendo a própria protagonista como reflexo. Dividida em sete identidades, multifacetadas através de peculiaridades físicas e psicológicas, Noomi Rapace é competente ao entregar personas distintas e facilmente identificáveis. Só que, por ser este um filme que privilegia a ação, estas mesmas identidades recorrem ao estereótipo, sem um maior aprofundamento, seja ele individual ou coletivo - o que, diante do contexto envolvido, soa como um imenso desperdício. No fim das contas, tudo não passa de uma grande desculpa para que Rapace apresente suas já conhecidas qualidades na realização de sequências de ação.

O mesmo vale para Onde Está Segunda? como um todo. Após um rápido preâmbulo que, de imediato, remete aos alertas feitos no documentário Uma Verdade Inconveniente, o longa dirigido por Tommy Wirkola busca um futuro sombrio calcado no cotidiano, onde a tecnologia alterou a vida de todos no planeta - toda e qualquer semelhança com a série Black Mirror não é mera coincidência. Tal mundo distópico rapidamente leva o espectador a uma realidade onde alimentos geneticamente modificados causaram a explosão de gêmeos, o que piora ainda mais o problema da superpopulação. Resultado: é decretada uma lei onde cada casal pode apenas ter um filho; os irmãos são congelados criogenicamente, à espera de um futuro melhor.

Neste ambiente, Wirkola encontrou algumas soluções interessantes: uma delas é o uso de muitos figurantes em praticamente todas as cenas, de forma a transmitir a sensação de falta de espaço inerente à esta realidade. Por mais que a presença de sete personagens principais seja cômoda sob o aspecto narrativo - uma para cada dia da semana, simples assim -, por outro lado a noção da identidade coletiva construída aos poucos traz ao filme um subtexto até mesmo cruel sobre a vida negada a cada uma delas, mesmo dentro das limitações impostas pelas regras de momento. Neste ponto, a figura do avô interpretado por Willem Dafoe é ao mesmo tempo salvador e carrasco, por confiná-las à rotina e à construção de uma personalidade coletiva, em detrimento das individualidades. Só que, infelizmente, nada disto é muito explorado pelo roteiro, que prefere se ater à busca misteriosa do título de forma a construir um filme banal de ação futurista.

Neste sentido, o diretor mergulha fundo na brutalidade das cenas de ação em um roteiro que, cada vez mais, transpira falta de imaginação. Da vilania exagerada às incoerências do próprio universo - como ter apartamentos tão amplos em uma realidade com tanta gente? -, o filme caminha rumo à mera luta pela sobrevivência, deixando de lado não só a instigante realidade distópica que o cerca mas, também, a própria coerência narrativa. Nem mesmo as boas - e violentas - cenas de ação conseguem segurar a atenção, especialmente no terço final.

Inicialmente promissor, Onde Está Segunda? opta pela banalidade ao priorizar o fácil nos rumos de sua história. Fosse mais ousado, Wirkola poderia entregar uma ficção científica densa e provocadora, no melhor estilo Gattaca ou até mesmo Blade Runner, mas prefere seguir o caminho convencional dos filmes de ação. É realmente uma pena, não só pelo mal aproveitamento de uma atriz talentosa como Glenn Close mas, especialmente, pelo desperdício do interessante material que tinha em mãos.