Críticas AdoroCinema
3,5
Bom
Heleno

<p><strong>Estrela solitária</strong></p>

por Roberto Cunha

Uma das primeiras coisas que precisam ser ditas para quem pretende entrar em campo, quer dizer, na sala escura é que Heleno não é um filme sobre futebol e sim sobre o polêmico jogador. Tendo como fonte de inspiração o livro "Nunca Houve um Homem como Heleno", de Marcos Eduardo Novaes, o longa dirigido por José Henrique Fonseca está longe de ser uma bola pra fora e é ousado sob vários aspectos.

O primeiro deles está na opção pelo preto e branco numa época em que o cinema vive de cores e está contaminado pelo 3D. Além da curiosa (e simpática) coincidência com o time alvinegro (Botafogo), percebe-se que a escolha mostrou-se acertada, situa bem o espectador na década de 40 e oferece uma bela fotografia de Walter Carvalho, também craque no seu ofício. Outra ousadia foi o close do protagonista no início do filme, quebrando logo o paradigma da ordem cronológica e surpreendendo com a revelação.

Você vai conhecer Heleno (Rodrigo Santoro), um craque dentro e fora do campo, com a bola e as mulheres, respectivamente. Vulcão de emoções, driblava fácil os adversários, mas foi derrubado pelo gênio intempestivo e a dificuldade de relacionamento, principalmente, com os colegas de profissão. Botafoguense doente ("Minha vida é o Botafogo!"), era louco por "gols, cinturinhas e cadillacs", mas uma outra doença (sífilis) e a recusa em tratá-la (por ignorância ou excesso de "macheza"), acabou abreviando sua presença dentro das quatro linhas.

Como muito se falou, mas pouco se sabe sobre o mito, o roteiro parece, às vezes, correr demais em algumas sequências dos fatos, o que é reforçado pela narrativa livre da ordem cronológica. Isso não chega a confundir, mas pode incomodar os que não são chegados nesse recurso. Mostrando seu relacionamento conturbado com a esposa (Alinne Moraes), assim como sua trajetória de glória, temperada com doses de lúxúria, de amor e de tristeza, o espectador vai transitar facilmente entre salões e quartos do Copacabana Palace, gramados e praias, chegando até em um hospital psiquiátrico, onde encontrará o que restou do grande galanteador.

Primeiro filme de Santoro como produtor, sua atuação convence tanto nos áureos tempos quanto na penúria, podendo agradar os fãs e até aqueles que ainda não se convenceram de seu talento, bem acima do padrão "rostinho bonito" imposto pela televisão. Ilustrado sonoramente com boa trilha (latina, inclusive), a curiosidade fica por conta da presença da colombiana Angie Cepeda (Pantaleão e as Visitadoras) em sequências "calientes", e os momentos onde a improvisação colaborou para dar mais veracidade às cenas, como aquela em que um armário despenca por cima de um personagem ou a de uma conversa entre pacientes remetendo ao clássico Um Estranho no Ninho (1975).

Não chega a ser penalidade máxima, mas a maneira velada de mostrar o vício do atleta em éter incomoda porque não dá para entender como ninguém fala nada (nem as mulheres) sobre o forte odor do líquido inebriante. Destacam-se uns bons diálogos e frases fortes ("Serei lembrado, vocês não!") narradas pelo protagonista. Senhoras e senhores, conheçam Heleno de Freitas, que vestiu outras camisas, mas eternamente Botafogo, morreu solitário como a estrela de seu time de coração.

Assista o vídeo exclusivo da entrevista com Rodrigo Santoro e Alinne Moraes, e leia a entrevista.