Críticas AdoroCinema
2,0
Fraco
Deixe a Luz Acesa

Romantismo gay

por Bruno Carmelo

Existem maneiras distintas de se interpretar um drama como este. Por um lado, é louvável que existam mais filmes sobre relações homoafetivas, tema tão raro nos cinemas. Na maioria dos casos, as histórias de amor gay tornam-se um produto de nicho, destinado aos cinemas de arte das grandes cidades, e nunca chegam ao público amplo. Assim, a simples existência de Deixe a Luz Acesa poderia ser interpretada como um mérito. Por outro lado, fica a impressão de que a temática mereceria uma abordagem muito mais complexa do que neste filme aqui.

Desde as primeiras imagens, vemos desenhos de nus masculinos. O cartaz mostra dois homens se beijando e o trailer, sem diálogos, mostra apenas a relação entre dois homens. A intenção aqui não é vender uma suposta originalidade da história, e sim a temática homossexual como principal chamariz. De maneira resumida, pode-se dizer que esta é uma conturbada história de amor entre Erik (Thure Lindhardt) e Paul (Zachary Booth), que se separam e se encontram várias vezes ao longo de dez anos.

Uma questão pode suscitar certos problemas éticos no que diz respeito aos clichês da representação de gays. Os dois homens encontram-se para uma noite casual, eles são vistos várias vezes multiplicando os parceiros – a maioria deles hedonistas e superficiais. Eles se envolvem com drogas, e quando ligam para o médico, é para saber o resultado do exame de HIV. Não digo que essas coisas não aconteçam, ou que não possam ser mostradas no cinema. O problema surge quando nada além disso é mostrado, criando a impressão de universalidade – ou seja, sugerindo que os romances entre dois homens estão necessariamente ligados à droga, à promiscuidade e às doenças venéreas.

Paul, por exemplo, não é visto usando drogas, mas o filme sugere que sempre que ele chega tarde em casa, é devido à dependência química. Estes homens quase nunca são vistos trabalhando, emitindo pensamentos sobre outras pessoas, sobre a sociedade, sobre a religião, sobre o que quer que seja. Este é um filme sobre o amor, onde nada mais se faz além de amar. Deixe a Luz Acesa é uma trama tão romântica quanto antissocial, idealista, e por isso pouco realista.

Outros problemas surgem no desenvolvimento do roteiro. As presenças femininas são superficiais, tristemente acessórias: as duas mulheres em cena são a irmã do protagonista (Paprika Steen) e sua melhor amiga (Julianne Nicholson). Nenhuma delas tem uma personalidade ou um desenvolvimento marcante, elas são apenas ferramentas acessórias do roteiro, para que Erik possa informar o espectador sobre os acontecimentos da história e sobre a passagem dos anos.

Como nem tudo são problemas, pode-se dizer em defesa do filme que Thure Lindhardt é de fato um bom ator, e que o cineasta Ira Sachs sabe construir algumas belas imagens etéreas – embora elas também não se diferenciem muito da estética comum ao gênero "indie gay". Tenho a impressão de que, se o roteiro trocasse um dos dois protagonistas por uma mulher, este seria um romance banal, que iria diretamente para as vídeo locadoras. Mas por causa de sua temática, ele desperta a curiosidade, e acaba chegando às telas. Resta torcer para que, com a provável multiplicação de filmes sobre amores entre pessoas do mesmo sexo, outras histórias mais complexas e interessantes sejam desenvolvidas. Os espectadores, de qualquer orientação sexual, certamente merecem mais do que uma enésima idealização do amor.