A princesa solitária
por Francisco RussoVocê já viu este filme, só que sob outra roupagem. Pense bem: a mulher mais famosa do mundo se apaixona por um homem absolutamente desconhecido e, juntos, precisam encontrar um meio de seguir adiante com o relacionamento. Pois é, há muito de Um Lugar Chamado Notting Hill na proposta conceitual de Diana, o que é um erro grave. Por mais que o diretor Oliver Hirschbiegel tenha optado por privilegiar a vida amorosa de sua protagonista em uma fase bem específica de sua vida, a cinebiografia da princesa Diana acaba reduzindo-a tanto que, apesar de até mostrar alguns de seus atos beneficentes, a impressão que fica é que ela é apenas uma mulher desesperada por um relacionamento, qualquer que seja. Afinal de contas, qual mulher aceitaria passivamente que um suposto pretendente preferisse assistir uma partida de futebol - na casa dela - ao invés de desfrutar de sua companhia? Diana aceita, sem questionamentos, assim como resolve limpar o apartamento do amado como forma de demonstrar seu amor e convencê-lo a reatar o namoro. Sim, é isso mesmo.
Ou seja, a mulher que foi símbolo mundial para uma geração e que enfrentou o rigor das tradições do Reino Unido - algo que o filme apenas menciona bem de leve, em rápidos comentários sobre questões familiares - acaba sendo retratada como alguém que simplesmente topa tudo por um pouco de carinho, passando por cima até mesmo de seu amor próprio. Ok, há a séria questão da falta de privacidade, que é pertinente. Ainda assim, Diana não é nenhuma garotinha no momento de vida retratado pelo longa-metragem e já há vários anos vivia com os holofotes apontados para si, o que lhe deu um certo traquejo para situações deste tipo. O filme até explora esta capacidade, mostrando que a princesa sabia também manipular a imprensa quando desejava, mas ainda assim sempre a coloca como vítima diante de tal contexto - talvez influenciado pelo seu trágico desfecho.
Entretanto, por mais que toda esta caracterização seja por vezes contraditória, o maior problema de Diana é o modo como o romance entre a princesa e Hasnat é conduzido. Arrastada, a história de amor entre eles é baseada principalmente nos esforços feitos para que mantenham o relacionamento às escondidas e as brigas constantes sobre o quão difícil seria continuar o namoro diante de tal situação. Trata-se de uma história empacada, que não convence pela ausência de química entre os atores nem avança como história de vida de um casal. Para completar, há ainda o inevitável problema decorrente da escalação de Naveen Andrews como Hasnat. Marcado no imaginário coletivo como o Sayid da série de TV Lost, é impossível olhar para ele e dissociá-lo de seu personagem mais famoso. Fosse um ator desconhecido, ou ao menos alguém que não trouxesse consigo uma carga tão pesada, e talvez o romance soasse um pouco mais verossímil.
Diante de tantos problemas, quem consegue ainda manter alguma atenção ao filme é Naomi Watts. Por mais que esta não seja daquelas atuações de mimetizar a personalidade, como fez Meryl Streep em A Dama de Ferro e Daniel Brühl em Rush - No Limite da Emoção, Watts conseguiu captar alguns trejeitos bastante particulares da princesa de Gales. Um deles, o mais marcante, é quando abaixa um pouco a cabeça para olhar ao interlocutor de baixo para cima, transmitindo a sensação de análise da pessoa com quem está conversando e também de humildade. A cena em que dá a famosa entrevista para a BBC, quando fala sobre a traição do príncipe Charles com Camilla Parker Bowles, é a mais emblemática neste sentido.
No fim das contas, Diana acaba sendo um filme que até homenageia sua personagem-título, mas que ainda assim está bem longe do alcance e da importância que a princesa teve não apenas para seus súditos ingleses, mas para a sociedade da época. Por mais que foque em suas minúcias amorosas, o desleixo com outros fatores de sua vida acaba tornando-o um filme menor e bem menos atraente para o público, que recebe apenas um mero romance entre uma mulher famosa e um desconhecido. Assim como em Notting Hill, só que sem o mesmo charme e competência. Fraco.