Críticas AdoroCinema
3,0
Legal
Elvis & Nixon

Quando dois ícones se encontram

por Francisco Russo

Elvis Presley e Richard Nixon, ícones norte-americanos do século XX. Se Elvis arrancou suspiros e conquistou fãs com sua voz, charme e o jeito particular de dançar, sendo lembrado (e imitado) até os dias atuais, Nixon talvez tenha sido a síntese maior da busca pelo poder a qualquer preço. Presidente dos Estados Unidos por duas vezes, ficou marcado na História pelo escândalo de Watergate e pelas gravações que fez em plena Casa Branca, sobre absolutamente tudo que fazia e com quem conversava. Donos de personalidades completamente distintas, é difícil até mesmo imaginar como seria um encontro entre eles - que aconteceu, de verdade, em 21 de dezembro de 1970. É em torno deste fato que discorre o roteiro de Elvis & Nixon, novo trabalho da pouco conhecida diretora Liza Johnson.

Logo de início, o próprio filme lembra que, na época do tal encontro, Nixon não havia iniciado as famosas gravações no Salão Oval da Casa Branca. Ou seja, não há documentos que comprovem o que foi dito entre o rei do rock e "Dick Vigarista", como o presidente era apelidado pelos detratores. Diante disto, o roteiro de Elvis & Nixon nada mais é do que um exercício criativo em torno do tal encontro, tendo por base a personalidade de cada um. Para intepretá-los, foram convocados dois grandes atores: Michael Shannon e Kevin Spacey.

Por mais que fisicamente não lembre Presley, Shannon trouxe ao cantor um ar cool e extravagante, entre a ingenuidade e a alienação, que combina tão bem com os excessos típicos dos astros do rock'n'roll. Seu Elvis tem plena consciência do impacto que provoca na vida dos que estão à sua volta, sejam eles fãs ou amigos, e se aproveita de tamanha repercussão. É assim que convence dois velhos amigos a ajudá-lo na empreitada de viajar até Washington para se encontrar com o atual presidente. Seu intuito é ajudar a evitar a derrocada dos Estados Unidos, agindo como agente especial infiltrado. É isso mesmo, Elvis quer se tornar uma espécie de policial à paisana, agindo em nome do governo, dentro do círculo artístico - destaque para seus comentários sobre os potenciais suspeitos, divertidíssimos.

Já Spacey assume os trejeitos e a postura corporal típicos para compor um Richard Nixon paranoico e desconfiado, como de hábito. Inicialmente contra o tal encontro, ele cede à pressão no melhor estilo "você não gosta de mim, mas sua filha gosta", como tão bem disse Chico Buarque na canção "Jorge Maravilha". Quando o encontro enfim acontece, ele é repleto de particularidades anacrônicas que rompem qualquer protocolo previsto, por vezes beirando o nonsense.

Por mais que o encontro entre Elvis e Nixon seja divertido, e o filme conte com dois atores competentes entregando versões viáveis dos ícones, fato é que Elvis & Nixon tem pouco a dizer além disto. Extremamente dependente da fama de seus personagens principais, este longa de apenas 86 minutos acaba oferecendo um fiapo de roteiro para juntá-los, inserindo coadjuvantes e subtramas como mera encheção de linguiça. Por mais que não chegue a cansar, a sensação de paralisia por vezes atinge a narrativa - algo bastante relevante para um filme tão curto.

Com cara de telefilme, Elvis & Nixon é na verdade uma imensa brincadeira em torno de figuras tão conhecidas. Se o duelo de personalidades até provoca situações agradáveis, o longa pouco oferece além disto. Apenas curioso.