Críticas AdoroCinema
2,5
Regular
Diário de um Banana - Dias de Cão

Ser criança nos Estados Unidos

por Bruno Carmelo

Pode ser difícil embarcar neste filme se você não estiver familiarizado com a nova estética televisiva de Disney Channel, Boomerang e afins. A imagem é multicolorida, os gestos e caretas dos personagens são exagerados, a música (piano, xilofone) sublinha cada ação, a narração é explicativa. Já o cenário é um hino ao patriotismo americano, com seus colégios divididos em castas, cheios de armários metálicos no corredor, onde os nerds são maltratados e as garotas populares pensam no baile de formatura. Este mundo está distante de uma criança que não seja americana, branca, conservadora, protestante e de classe média-alta.

O espectador pode recusar esse mundo-bolha, mas talvez seja mais interessante interpretá-lo como uma nova forma de didatismo infantil. A linguagem cinematográfica redundante (o narrador fala "tenho que estar um passo à frente do meu pai", e o desenho mostra um garoto literalmente um passo à frente do pai) funciona como um ensinamento sobre os recursos audiovisuais básicos, como a montagem paralela, a narração, a ironia e outros. Já o tema da inserção na sociedade mostra às crianças americanas o que se espera delas caso sejam, como já se disse acima, brancas, de classe média-alta etc. etc. etc.

Diário de um Banana: Dias de Cão é o terceiro filme de uma franquia adaptada dos livros de mesmo nome. A história gira em torno de Greg (Zachary Gordon), típico pré-adolescente que se sente incompreendido por todos ao redor: o pai, a mãe, as garotas, os amigos de sala e mesmo um novo cachorro. Os livros apostavam na animação simples, com poucos traços, e o filme tenta seguir a mesma linha, sem se aprofundar na psicologia de cada personagem. Estamos em uma produção repleta de estereótipos e construções superficiais, mas plenamente consciente disso.

No entanto, no mesmo nicho em que várias produções insistem em doutrinar as crianças ("ame sua família", "respeite seus irmãos"), esta aqui tolera as inadequações dos jovens, dizendo tanto aos pais quanto aos filhos que a sociedade funciona assim mesmo, e que nada vai mudar. Politicamente falando, a mensagem é bastante conformista, mas o fato de não ser reacionária nem moralista já é um grande mérito. As produções independentes e os seriados de televisão já abraçam com carinho a figura dos excluídos, os "losers", e chega a ser louvável que um recanto tradicional como a Disney comece a fazer o mesmo.

Por fim, Diário de um Banana: Dias de Cão, em sua simplicidade esquemática, lembra aqueles clássicos infantis de Sessão da Tarde, como Os Batutinhas, Meu Primeiro Amor e outros. Todos os traços destes filmes estão presentes: a doce desconexão com a realidade, a infância tratada de maneira séria e o cinema funcionando como artifício falsamente ingênuo, uma espécie de escapismo melancólico à geração Facebook-YouTube.