Críticas AdoroCinema
2,0
Fraco
De Canção em Canção

Eu presto atenção no que eles dizem/ Mas eles não dizem nada

por Renato Hermsdorff

Desde Árvore da Vida (2011), Terrence Malick tem virado um pastiche de si mesmo. O diretor monta suas produções encadeando belíssimas imagens, se valendo de um subtexto pretensioso que pouco ou nada tem a dizer. E com este De Canção em Canção, infelizmente, não é diferente.

Com roteiro do cineasta, a história (se é que há) é centrada na figura de Faye (Rooney Mara), que trabalha no ramo musical (desconfia-se), a serviço (ao que tudo indica) do produtor magnata Cook (Michael Fassbender), com quem (pelo menos, parece) tem uma relação amorosa. Perdida na vida, ela se envolve com o músico BV (Ryan Gosling), em ascensão, enquanto Cook corteja a garçonete Rhonda, vivida por Natalie Portman.

E tome pôr (ou nascer) do sol. Como de costume, Malick usa o contraluz, o corte seco, a trilha etérea, enviesa a câmera, resultando num enquadramento de encher os olhos. E só. Abusando da narração em off (uma muleta), ele se vale de frases supostamente de efeito para compor diálogos que poderiam ter saído dos sachês de açúcar da União. “Estou perdida”, “preciso me encontrar”, balbucia Faye durante boa parte da projeção que, claro, tem mais de duas horas.

O diferencial, aqui, é o foco amoroso (ainda que às avessas) – e musical. Alguns poderiam dizer que se trata de um tratado a respeito da fragilidade das relações amorosas fadadas ao desmanche na contemporaneidade (ou, passando um verniz de cor intelectual, de que se seria a materialização do tão evocado conceito do “amor líquido”, definido pelo sociólogo polonês Zygmunt Bauman). Mas é só entediante mesmo.

Em acordo com o ambiente, o filme é recheado de participações inusitadas de artistas da música. Dos integrantes do Red Hot Chilli Peppers a Iggy Pop; de Florence Welch a Patti Smith; de Lykke Li a John Lydon (do Sex Pistols), entre muitos (e muitos) outros. É curioso vê-los em cena (com especial destaque para Smith). Mas não passa de curiosidade mesmo.

Passada a era bissexta de culto da crítica (de Terra de Ninguém, em 1973, a Além da Linha Vermelha, de 1998, ele dirigiu apenas três longas, muito elogiados), o que parece ter sobrevivido ao tempo, para Malick, é a simpatia dos grandes atores de Hollywood. Além do elenco principal, por exemplo, Song to Song (no original) conta com a participação de nomes como Cate Blanchett, Holly Hunter, até do sumido do Val Kilmer. Todos lindamente fotografados. Ninguém com nada a dizer.

É como diz a letra de “Toda Forma de Poder”, dos Engenheiros do Hawaii (pegando carona no pano de fundo da produção): “Eu presto atenção no que eles dizem/ Mas eles não dizem nada”.