Críticas AdoroCinema
4,0
Muito bom
Amor em Pedaços

Vigor criativo

por Francisco Russo

A proposta de Amor em Pedaços é instigante. Treze diretores, todos iniciantes, dirigem uma história de amor com duração pré-definida: treze meses. Cada um deles assume a direção de um episódio mensal, que precisa não apenas seguir uma linha cronológica dos fatos, mas também se ater a detalhes como continuidade e coesão em relação aos demais. O resultado é um filme que, apesar de irregular, demonstra um enorme vigor criativo, ressaltado pelas diversas narrativas assumidas a cada novo mês.

A história acompanha Sun (Saras Gil) e Lucas (Marcel Borràs), recém saídos da adolescência. Ela veio de Chicago, ele de Mallorca. Logo de cara duelam por um quarto em Barcelona, reservado por ambos com proprietários diferentes do apartamento. Ao longo dos meses seguintes a animosidade inicial se transforma em atração e, posteriormente, paixão. Só que com data marcada para terminar, já que eles precisarão retornar às suas cidades daqui a 13 meses.

Devido à proposta implementada, a história de Sun e Lucas é mostrada a partir de saltos mensais, que refletem o espírito de ambos naquela época específica. O curioso é perceber que cada mês possui um traço muito particular, resultando em uma variedade de estilos impressionante. Por exemplo, há um episódio que segue o formato típico de uma sitcom, com direito a claque e até mesmo "to be continued" no final. Da mesma forma, temas como internet, drogas, sexo e o próprio cinema ganham destaque em alguns meses, sempre mantendo a coerência na história como um todo.

Em meio à tamanha experimentação, há ainda uma bela história de amor. Jovem, idealizada e por vezes clichê, mas fundamentada a partir das boas atuações do casal protagonista e também de ótimas sacadas dos roteiristas, como a sensacional dança do ladrilho. A dor da separação iminente não fica de fora, com o sofrimento antecipado pelo "the end" pré-marcado. O desfecho, exibido parcialmente logo no início do filme, é outro ponto alto, apesar de previsível.

Amor em Pedaços é um filme vibrante pelo formato implementado, auxiliado também pela bela edição e o bom uso da trilha sonora. O ponto negativo é sua inconstância. O segundo mês, por exemplo, é deslocado de todo o restante do filme, chegando a repetir a apresentação dos personagens e até mesmo o título. Por mais que tenha uma mensagem muito clara, imitar uma típica sitcom, soa mais como exercício de formato do que propriamente algo em prol da história como um todo. Os meses finais também sofrem uma leve queda, pela repetição do tema da separação sem muitas variáveis. Ainda assim, são problemas menores diante do todo. Um filme divertido, alegre e contagiante, que demonstra o frescor natural de seus jovens protagonistas e também dos diretores em início de carreira.