Com bastante calma
por Francisco RussoEm meio a uma festa com ares de culto as pessoas cantam e dançam misturadas às sombras, provocando um visual ao mesmo tempo atraente e impactante. Assim começa Girimunho, um filme de ritmo próprio cuja proposta maior é fazer com que o espectador mergulhe fundo em seu ambiente. Mas, para tanto, é preciso aceitar sua morosidade e compreender que ela faz parte da própria história.
A trama é centrada em Bastú, "interpretada" pela simpática e espirituosa Maria Sebastiana. Entre aspas porque na verdade personagem e intérprete são um só, não na história contada mas em suas características. Bastú tem personalidade e, teimosa, enfrenta a possível presença do fantasma de seu marido na casa em que vive ao mesmo tempo em que convive com a neta. Tudo em uma cidade interiorana, onde o único indício de tecnologia é a presença de um celular já na metade final da história, com tempo mais do que suficiente para pensar e repensar a vida. É assim, em meio a crendices e cantigas sempre curiosas, que ela leva a vida.
O grande feito dos diretores Helvécio Marins Jr. e Clarissa Campolina foi conseguir transpor para a telona o ritmo de vida de Bastú, de forma que o espectador sinta na pele como é seu cotidiano. Para tanto há cenas longuíssimas, onde basicamente se observa a paisagem, sem nada relevante acontecendo. A fotografia também ajuda, explorando bem a escuridão para ressaltar que ali, naquela cidade, ela também faz parte do dia a dia.
Como proposta conceitual, Girimunho tem seu valor. É o retrato fiel da vida em uma cidade no interior do país, afastada das tentações e atrações dos grandes centros urbanos, sob o olhar de uma senhora idosa. Por outro lado, é também um filme bastante lento, que pode cansar o espectador desavisado. Apenas interessante.