Críticas AdoroCinema
2,5
Regular
Ato de Coragem

Aliste-se

por Bruno Carmelo

Basta ler o título, ver o cartaz e uma ou duas imagens do filme para saber que esta produção não pretende ser imparcial ao tratar dos militares da marinha americana. Ato de Coragem é abertamente patriótico, belicista, republicano, conservador. Criticar sua postura ideológica implicaria entrar em uma discussão puramente pessoal, e deixar de refletir sobre o filme em si.

Como uma propaganda tradicionalista digna desse nome, a história capricha nos homens viris e incorruptíveis, nas mulheres passivas cuja função é reproduzir e cuidar do lar, nos vilões estrangeiros (hispânicos, africanos ou asiáticos, terroristas ou traficantes, tanto faz), nas mensagens de louvor à família, à honra, à coragem, à nação. Bandeiras americanas tremem pelos ares, trilhas lacrimosas festejam cada resgate bem-sucedido, soldados caminham em câmera lenta pelo terreno, pores-do-sol estão pertinentemente posicionados no horizonte a cada vez que a vitória é conquistada. "Tudo isso valeu a pena", diz um narrador paterno e reconfortante.

Mesmo assim, Ato de Coragem não é mais uma produção semelhante às tramas de ação com Bruce Willis ou Sylvester Stallone. A primeira diferença encontra-se na questão "inspirado em fatos reais" que aparece na tela logo nos primeiros minutos. Esta produção se leva tão a sério que ela não permite o humor típico do gênero, nem as frases de efeito ou as explosões espetaculares a cada cinco minutos. Cada ação é planejada com calma, de modo que os militares são vistos mais como americanos esforçados e bem treinados do que homens sobre-humanos. Para coroar esta escolha, soldados reais foram escolhidos como atores. Embora eles tenham dotes dramáticos limitadíssimos, eles conferem ao filme a verossimilhança que a produção quer tanto passar – e constituem um argumento de marketing poderoso.

Outra surpresa vem com a violência do filme. Nada de socos e pontapés, tudo é feito à distância, com tiros. Tanto a imagem quanto o som mostram um gosto incomum pelo gore: olhos saltam das órbitas,

litros de sangue mancham as paredes, torturas são mostradas em detalhes. Os efeitos sonoros representam os tiros perfurando corpos e as substâncias viscosas que escorrem deles. Ao invés de tentar agradar o público adolescente e conquistar uma classificação etária PG-13 (permitida aos maiores de 13 anos), a produção mirou nos jovens mais velhos, prestes a se alistarem no exército. A ideia aqui não é divertir e impressionar, mas mostrar que isso é sério, real, recompensador e disponível para qualquer indivíduo corajoso como os homens em tela.

O fato é que, defendendo ou não a postura do filme, os diretores conseguiram criar um panfleto digno de suas ambições – principalmente pelo orçamento muito modesto de US$12 milhões. Os diretores posicionam a câmera no centro da ação, escolhem frequentemente o ponto de vista subjetivo, embelezam ao máximo as imagens de combate e de praia (temos a impressão de estarmos em um longo comercial de Nike ou Sprite) no intuito de melhor criar uma identificação com o espectador. Sim, o público está sendo manipulado do início ao fim, mas o curioso mérito de Ato de Coragem é assumir esta postura propagandista, até a frase final, quando abertamente convida os jovens a se alistarem no exército ou marinha.

Em ano de eleições presidenciais nos Estados Unidos, Ato de Coragem deve apaixonar os eleitores republicanos, irritar os democratas, mas provavelmente acabará pregando apenas para os convertidos, e não terá nenhum efeito prático – assim como, em uma postura política diametralmente oposta, Michael Moore também não conseguiu impedir a eleição de George W. Bush com seus documentários acusadores. Fica uma curiosidade: logo no início, após a ação de um terrorista, uma bomba explode pelos ares e uma criancinha desesperada sai correndo das chamas em direção à lente da câmera. Esta imagem curta lembra muito aquelas crianças correndo nuas depois do ataque americano com Napalm durante a Guerra do Vietnã. Curiosa e irônica releitura da História, desta vez fazendo dos Estados Unidos os salvadores.