Críticas AdoroCinema
2,0
Fraco
Transformers: A Era da Extinção

A fórmula Transformers

por Francisco Russo

Algum tempo atrás, um conhecido me perguntou porque um robô se transformava exatamente em um caminhão em Transformers. Não por ter algo contra o veículo, mas por achar estranho um ser alienígena se transformar em uma criação tão humana. A pergunta fazia todo o sentido, claro, mas na hora notei que ele não havia ainda captado uma particularidade importantíssima sobre a série: questões como esta, com um fundo de lógica, não têm a menor importância.

A bem da verdade, a bilionária franquia Transformers segue uma fórmula rígida que, ao menos por enquanto, tem dado retorno financeiro. A receita é a seguinte: pegue um punhado de robôs gigantes - Optimus Prime, Bumblebee e Megatron precisam estar lá, os demais tanto faz -, coloque-os em dezenas de batalhas entre si (o motivo é irrelevante), salpique uns humanos para correr e pular de um lado para o outro, inclua algum alívio cômico de vez em quando, decore com bandeiras americanas ao seu dispor e, é claro, prolongue a duração ao máximo. O mestre-cuca e criador da fórmula é ninguém menos que Michael Bay, especialista em explosões que simplesmente não consegue fazer um filme com menos de duas horas.

Diante desta constatação, é possível dizer que Transformers: A Era da Extinção pouco traz de diferente em relação aos episódios anteriores. É bem verdade que Shia LaBeouf, Tyrese Gibson & cia se foram, nenhum ator que deu as caras na trilogia original marca presença neste novo filme. Só que seus substitutos, por mais que tragam consigo uma nova história e, em certos casos, até características diferentes, são apenas breves distrações para o que realmente importa: as batalhas entre robôs. São meros bibelôs que estão lá apenas para dar ao filme o elemento humano, essencial para que haja algum fiapo de identificação neste contexto. Diante disto, pouco importa a bizarrice de ver um Mark Wahlberg marombado interpretando um criador de robôs ou que um piloto de rally contratado pela Red Bull esteja escondido no interior do Texas, no meio do nada. Coerência, pra quê? Isto é Transformers!

O incrível é que situações deste tipo estão tão entranhadas na série que agora o próprio Michael Bay brinca com elas. É o acontece quando Optimus Prime é encontrado dentro de um cinema abandonado – peraí, como um caminhão foi parar dentro de um cinem... esquece! – e o antigo dono do local reclama que bom era antigamente, quando faziam filmes de verdade, que agora só se fazia sequências e refilmagens de meia tigela (sinal de autoironia ligado!). Ou quando o personagem de Stanley Tucci, repleto de um deboche delicioso, brinca no elevador com o fato de ser perseguido por robôs gigantes e agentes da CIA que queriam matá-lo e ainda ter um artefato alienígena com o potencial de uma ogiva nuclear em mãos – tudo isto em Pequim, é bom frisar! Ou seja, os absurdos já fazem parte do que se espera de um filme da franquia.

Mas, mesmo com uma boa dose de condescendência com certas situações de roteiro, o que inclui sequências inteiras sem a menor função na trama, Transformers: A Era da Extinção possui alguns problemas sérios. O maior deles é a excessiva duração: são 186 minutos, 2h46, o que resulta em uma quantidade incrível de reviravoltas desnecessárias e uns quatro finais falsos. Por mais que se goste de ver robôs se digladiando na telona, cansa. Ainda mais quando boa parte deste espaço é ocupado por cenas e diálogos clichês vindos de Wahlberg e Nicola Peltz, a insossa musa da vez que fica o filme inteiro ora aprontando pra cima do pai, ora pedindo por ajuda. O filme poderia, facilmente, ter uma hora a menos sem prejuízo à história como um todo, muito pelo contrário.

Outro problema sério são os Dinobots, a novidade deste quarto episódio. Os dinossauros-robôs são bacanas e visualmente estilosos, apresentando uma variedade interessante de "espécies". Mas sua origem é tão mal explicada que muita gente sai da sala sem entender direito o porquê deles aparecerem ou como Optimus Prime os "domesticou". Mais uma vez, lembro: é Transformers, ou seja, qualquer tipo de lógica passa longe da ideia que os roteiristas têm para a série. O melhor a fazer é engolir em seco e seguir em frente, rumo à próxima incoerência.

Diante deste objetivo cada vez mais nítido de povoar a telona com muita ação de forma que o espectador não tenha tempo de pensar neste detalhe que é a história, o que resta? Efeitos especiais e sonoros, onde, é importante ressaltar, a série reina. A trilogia anterior conquistou sete indicações ao Oscar nestas categorias e é bem provável que A Era da Extinção mantenha o pique. Há uma excelência inegável nestes quesitos, o que não impede que certas situações envolvendo os robôs, como saltos mortais sobre rodovias, já estejam batidas.

Dentro da série como um todo, A Era da Extinção é superior ao segundo filme, A Vingança dos Derrotados, mas inferior ao primeiro Transformers e também a O Lado Oculto da Lua. Falta o humor bem dosado do original e a grandiosidade do terceiro. Para quem é fã da série, pouco importa: este irá vê-lo e, provavelmente, adorá-lo - as regras básicas da fórmula estão lá, não se esqueça! Mas quem espera da sétima arte um pouco mais do que tiro, porrada e bomba em doses robóticas tem boas chances de sair decepcionado, mesmo aqueles que já estão acostumados com o estilo Michael Bay de cinema. Para encerrar, fica o desafio: tente contar a quantidade de marcas famosas, dos mais variados produtos, que ganham espaço em merchandising dentro do longa-metragem. Este, talvez, seja um dos motivos para que seja tão longo.