Críticas AdoroCinema
3,0
Legal
O Último Ato

Mundo moderno

por Francisco Russo

Barry Levinson é um caso peculiar em Hollywood. De diretor consagrado, vencedor do Oscar por Rain Man, trilhou uma carreira descendente rumo a uma quase obscuridade. Seu último filme relevante foi o divertido Vida Bandida, lançado em 2001 – quase uma década e meia atrás. O premiado telefilme Você Não Conhece o Jack (2010) fez com que tivesse uma nova chance nas telonas, mais uma vez ao lado de Al Pacino. O resultado é O Último Ato, um filme irregular cujo maior interesse se dá pela presença do elenco principal.

Pacino desta vez dá vida a um astro do teatro, que um dia simplesmente desiste da profissão. Estressado, se interna em uma clínica psiquiátrica e passa a ter sessões regulares com um terapeuta via Skype. Ao sair, reencontra a filha de um grande amigo, bem mais nova que ele. A paixonite que nutria desde criança a faz com que jogue tudo para o alto, inclusive sua atual preferência sexual, para embarcar na realização do antigo sonho. Só que ele, décadas mais velho, passa a cada vez mais ter medo de perdê-la.

O longa-metragem oferece ainda como pano de fundo uma subtrama curiosa, mas exageradamente longa, envolvendo a obsessão de uma das pacientes da clínica psiquiátrica, que deseja que Simon mate seu marido por tê-lo visto interpretando um matador em um filme. Este, por sinal, é um dos problemas de O Último Ato: de ritmo arrastado e pouco atraente a princípio, o filme demora a enfim engrenar. O que apenas acontece quando Greta Gerwig entra em cena, trazendo um frescor para o filme como um todo.

Bem à vontade em cena, Pacino explora bastante seus característicos gestos expansivos para ressaltar certas excentricidades peculiares. Na verdade, trata-se de um papel bastante parecido com a persona pública do ator, seja pelo modo de ser ou pela própria paixão pelo teatro. Seu personagem ganha interesse à medida que o relacionamento com a jovem Pegeen ganha corpo, seja pela própria vida que levam (e os constantes desencontros de interesse devido à diferença de idade existente) ou pelo choque do veterano Simon Axler ao frequentar este mundo moderno (e pouco habitual para ele) envolvendo as ex-namoradas de Pegeen, que rende sequências divertidas.

Irregular e demasiadamente longo, O Último Ato se sustenta muito graças à qualidade da dupla Pacino/Gerwig e as situações inusitadas em torno do relacionamento deles. O desfecho pra lá de exagerado até é condizente com o que o personagem principal representa, mas não deixa de ser também uma supervalorização excessiva da situação vivenciada. Ainda não foi desta vez que Levinson retornou aos bons tempos dos anos 1990, quando sua carreira esteve no auge.

Filme visto no 71º Festival de Veneza, em setembro de 2014.