Música para seus olhos ... e ouvidos!
por Roberto CunhaO que você faria se a música fizesse parte de sua vida e tivesse em mãos mais de 20 horas de material reunido sobre uma banda de sucesso? Cameron Crowe fez um documentário de 120 minutos com informações de sobra para alegrar os fãs e até, quem sabe, arregimentar novos integrantes para a legião que escuta "esse" singular som que veio de Seattle.Pearl Jam Twenty registra os 20 anos de lançamento do primeiro álbum do grupo, brincando, inclusive, com o seu título "Ten". E como era de se esperar, o espectador vai viajar no tempo, ver Stone Gossard e Jeff Ament (guitarrista e baixista do grupo) muito novos, na época que formaram o grupo Mother Love Bone com o emblemático vocalista Andrew Wood.
Misturando cenas de arquivo e imagens recentes, não faltarão conversas, entrevistas, shows e depoimentos emocionados, como o do amigo de todas as horas Chris Cornell, vocalista do Soundgarden. Além dele, figuras polêmicas como o eterno rebelde Neil Young e o símbolo maior do fenômeno grunge Kurt Cobain, do Nirvana, também comparecem nessa colcha de retalhos sonorizada por uma trilha composta (boa parte dela) num porão. Mas estão lá também as drogas, bebidas, tribunal, overdose, mortes, brigas, polêmicas, ingredientes dessa trágica e curiosa trajetória iniciada meio que por acaso, com o envio descompromissado de uma fita demo por um tímido Eddie Vedder, segurança de hotel com incrível talento para compor e cantar.
Com humor de sobra, os comentários deles sobre eles mesmos são verdadeiras "pérolas", que ajudam a entender melhor o porquê de determinadas reações do grupo, que detona vídeo clipes, rótulos, gravadoras, a MTV, o monopólio na venda dos ingressos, entre muitos outros. Sem contar a transformação de Vedder num artista visceral e polêmico. O primeiro nome do grupo, a origem, as mudanças, dificuldades para encontrar um baterista, shows antológicos, a impressão dos fãs, as influências de Led Zeppelin, The Who, a rixa com Nirvana, Creed, os voos do cantor sobre o público e a inesquecível participação alucinada no filme Vida de Solteiro (1992) são marcas do que ficou.
Assim, se existe algo de ruim a ser dito, seria a longa duração e a breve perda de ritmo, mas o resultado final é música para seus olhos e ouvidos. Um documentário definitivo que escancara as portas de uma "incrível banda de hard rock melódico" (definição do diretor no começo da narrativa), marcada pelo "fim da inocência" (palavras do amigo Cornell), capaz de questionar o próprio sucesso e seus efeitos nas pessoas. Imperdível.