O espetáculo da destruição
por Bruno CarmeloO início de Pompeia não é nada animador. Um homem surge de lugar algum e logo se adivinha que este é o vilão, porque ele deixa morrer uma criancinha. Em seguida aparece outro, em câmera lenta, e dá para saber que este é o mocinho, porque é forte, belo e cuida de animais indefesos. Ainda surge uma garota bela, que imediatamente olha para o gladiador forte, e ambos se apaixonam à primeira vista. Ela ainda diz alguma frase de efeito como "Eu consigo ver a bondade em seu coração". Estes momentos não inspiram confiança, mas o filme compensa a falta de sutileza e a pouca inteligência do roteiro com um espetáculo visual impressionante.
O diretor Paul W.S. Anderson parece se divertir muito com a câmera e com o potencial desta trama. Aliás, vale dizer que a história da cidade italiana e do vulcão Vesúvio é mero pano de fundo para o diretor massacrar uma população inteira em menos de duas horas. O título também poderia ser "Um milhão de maneiras de morrer em Pompeia": Anderson cria mortes por espada, correntes, asfixia, lava de vulcão, maremoto, esmagamento, apedrejamento... Tudo isso com o prazer de uma criança que brinca com bonecos e sonha com a destruição massiva de cenários imaginários.
Este espetáculo sádico é filmado com vigor: o diretor usa e abusa dos planos aéreos, das imagens de prédios rachando e desabando, e chega a colocar a sua câmera no ponto de vista das bolas de fogo cuspidas pelo vulcão. As diversas cenas de ação, que se sucedem sem tempos mortos no roteiro, são costuradas por uma montagem veloz e apresentam uma quantidade generosa de efeitos sonoros. Em um empolgante momento de combate (a cena do "massacre" dos gladiadores), a direção de som sobrepõe os ruídos das espadas aos gemidos dos atores, a ovação da plateia, o ruído do fogo no vulcão, o barulho da lâmina penetrando a carne dos combatentes e uma insistente percussão na trilha sonora. Tudo é exagerado, mas feito de modo a imprimir um ritmo intenso e eficaz.
Isso não impede que a produção seja bastante kitsch. O melhor exemplo disso é a maneira como Anderson retrata Milo (Kit Harington), protagonista desta história, que apesar de ter pouco mais de dez linhas de diálogo na trama toda, está presente na maioria das imagens, filmado como se fosse um modelo de cueca: o personagem é visto deitado em sua cela, ou apoiado contra as grades, flexionando os músculos, com os cachos do cabelo cuidadosamente caindo sobre os olhos e uma pequena ferida sempre aberta na testa, em sinal de virilidade. Harington não atua, ele posa como em um ensaio fotográfico, dando a impressão de que o diretor deseja transformá-lo em um novo sex symbol adolescente.
A história de amor é curta, de modo que Cassia (Emily Browning) não faz nada além do papel protocolar para uma mocinha de filme de ação, esperando para ser resgatada. O mais interessante é o bromance entre Milo e outro gladiador, Attico (Adewale Akinnuoye-Agbaje). Esta é a única relação que se desenvolve gradativamente ao longo da trama, com ambos se salvando e tornando-se grandes amigos e parceiros. O fato de esta ligação entre dois homens ser mais profunda e mais longa do que o romance com Cassia motivou as insinuações de homoerotismo por parte dos críticos - interpretação favorecida pela exibição ostensiva dos corpos masculinos, enquanto Cassia e as outras mulheres permanecem cobertas até o pescoço.
Mas o verdadeiro protagonista de Pompeia são os efeitos especiais. O 3D se exibe com orgulho, incluindo diversas imagens com fundo infinito e jogando mesmo as pequenas cinzas do vulcão em direção ao espectador. A fuga dos cidadãos desesperados diante a catástrofe do Vesúvio é um momento de incrível histeria, com os protagonistas gritando e correndo em frente ao gigantesco cenário digital. Talvez este seja o filme de ação com o maior número de green screen (aquelas telas verdes em que são projetadas imagens computadorizadas) em muitos anos, mas com plena consciência de sua artificialidade.
O espectador pode reclamar - com razão - que Pompeia é um filme tolo e previsível, mas ele certamente não poderá dizer que a sessão não valeu o ingresso, e não trouxe exatamente o que prometia. Afinal, a produção exibe uma quantidade insana, divertidíssima e desabusada de caos e destruição.