Críticas AdoroCinema
3,0
Legal
Anderson Silva - Como Água

<strong>Rebelde com causa e efeito</strong>

por Roberto Cunha

O potencial do Ultimate Fighting Championship (UFC) já era conhecido desde os seus primórdios. Misturando lutas de boxe televisionadas há anos com a crueza das arenas dos antigos gladiadores, o evento conheceu a glória e o fracasso. Só foi resgatado devido a visão de empresários que reverteram o cenário ruim com o MMA (Mixes Martial Arts), resgatando a marca UFC e, melhor, levando-a para grade das tvs abertas.

Dentro desse contexto, existem lutadores e lutadores. Desde os mais brutos que só conseguem entrar na arena pensando em "esmagar, matar, destruir", bordão do saudoso seriado japonês Robô Gigante (da década de 70), até os que já entenderam algumas das principais regras desse negócio. Embora não tenha sido o primeiro a brilhar no ringue conhecido octógono, Anderson Silva tem se mostrado um "produto premium" e, ao mesmo tempo, um problema para os organizadores. Primeiro pelo desempenho (ninguém consegue vencê-lo) e segundo pelo mesmo motivo, pois sem oponentes não existe risco de perder o título de campeão.

Anderson Silva - Como Água revela os vários lados desse "outro ringue" que os atletas são obrigados a frequentar. Para situar o espectador, começa com a polêmica luta com o brasileiro Demian Maia, pela qual foi duramente criticado e irritou Dana White, o "capo" do MMA. Se jogada de marketing ou não, entra em cena o americano Chael Sonnen como desafiante, com um discurso ultraconservador, preconceituoso e chamando-o de fraude, resgatando o velho clima de rivalidade entre lutadores desde o auge do Boxe.

Dentro desse contexto, este primeiro filme de Pablo Croce, premiado no Festival de Tribeca 2011, apresenta uma espécie de contagem regressiva, listando os acontecimentos durante os 60 dias que antecederam a defesa do cinturão do campeão dos Pesos Médios. Mostrando as entranhas dos treinamentos e o lado humano do protagonista, sem esquecer o antagonista, seja em audio (depoimentos inflamados em rádios) ou em imagens, funciona bem a ideia de informar e "seduzir" o espectador para torcer, mesmo que a qualidade de algumas imagens deixe a desejar.

Estão lá o dia a dia do "herói" e seus companheiros (os iniciados reconhecerão Lyotto Machida, Minotauro, Júnior Cigano, José Aldo, entre outros), e o que ele "sofre e sofreu" por ter cometido o erro de não se entender a principal regra: o seu ganha pão é um negócio.

Na trilha sonora cheia de rap americano e uma participação de Seu Jorge, cantando "Everybody Loves The Sunshine", destaque para a boa instrumental (com uma guitarrinha), ilustrando os momentos do clímax. Entre as curiosidades, a participação do ator (e lutador) Steven Seagal, um desenho de Obama com um olho roxo numa parede e, no centro da NIke, um campo de futebol chamado Ronaldo e uma imagem do jogador Luís Fabiano logo na entrada.

Criticando o sistema do qual faz parte, o atleta talhado para vencer admite que a polêmica luta foi feia, mas pergunta: "Quem ganhou?" Esquecendo que sua rebeldia, mesmo com causa, tem lá seus efeitos e eles podem ser ruins, Anderson revela-se capaz de mostrar-se monossilábico e irritadiço quando teria motivos de sobra para falar e extremamente calmo no auge da adrenalina ao final de um combate, lembrando da família e cumprimentando o rival. Um temperamento que muda da água para o vinho e ainda precisa ser decifrado pelos "inimigos". Para eles fica a pergunta imotalizada pelo juiz Big John McCarthy : "Are you ready? Let´s get it on!"