Críticas AdoroCinema
3,5
Bom
Deus Salve Ozzy Osbourne

Sobrevivente

por Francisco Russo

Quando o reality show The Osbournes estreou, em 2002, ele logo surpreendeu pelo estado físico e mental de sua estrela maior, Ozzy Osbourne. Com raciocínio e mobilidade bastante afetados, o astro do rock era uma pálida sombra do que fora no passado, fruto do abuso de drogas e álcool ao longo de décadas. O impacto de tamanha decadência fez com que Ozzy se tornasse uma espécie de piada de si mesmo, com as pessoas rindo de sua dificuldade em expressar uma simples frase com algum sentido. Deus Salve Ozzy Osbourne, o documentário, surge justamente para melhorar esta imagem.

Produzido pelo filho Jack Osbourne e com a esposa Sharon como produtora executiva, o longa-metragem tem como grande mérito não tratar seu protagonista como objeto de louvação. Ou seja, não apenas as conquistas de Ozzy são apresentadas como também seus defeitos, o que inclui problemas familiares, com a banda Black Sabbath e seus vários vícios, além das inevitáveis consequências. O fato de tocar nas feridas, às vezes de forma bastante explícita, faz com que o filme ganhe um ar de realidade absoluta, ajudando a moldar quem é, de verdade, Ozzy Osbourne.

Dito isto, o documentário apresenta de forma bastante didática a vida de Ozzy, com várias curiosidades. Entre elas o fato de que foram os Beatles quem influenciaram o cantor na decisão de ingressar de vez na música. A entrada no Black Sabbath é contada de forma bem honesta, assim como sua posterior demissão da banda. A tragédia com o guitarrista Randy Rhoads não passa em branco, associando sua importância no reinício da carreira de Ozzy. Tudo em meio a muitos vídeos, declarações e fotos de bastidores, que ressaltam o clima de festa constante presente ao longo de grande parte de sua carreira. Uma euforia que cobrava sua conta especialmente no âmbito familiar de Ozzy e em questões bem particulares, como a baixa auto-estima.

Deus Salve Ozzy Osbourne é um filme que explica bem quem é seu personagem principal e o impacto que teve na música, além do imaginário coletivo relacionado a ela. A fase de The Osbournes também está presente, com uma explicação sobre o porquê de Ozzy estar daquele jeito na época. O mais interessante, entretanto, é o que vem a seguir. Livre dos vícios há cinco anos, Ozzy fala abertamente sobre tudo o que passou, sem vergonha do passado. Como o próprio diz, “tenho muita sorte de ainda estar aqui”. Sobrevivente de uma época louca, onde rock, drogas e álcool eram quase sinônimos, ele ainda proporciona uma curiosa contradição na cena final do documentário: antes de um show, se ajoelha e reza. Uma cena simples, mas surpreendente por ser protagonizada pelo homem que, por pura provocação, arrancou a cabeça de uma pomba viva com os próprios dentes. Retrato fiel de quem é Ozzy Osbourne.