Críticas AdoroCinema
3,0
Legal
Os Infiéis

RELAXA E GOZA

por Roberto Cunha

A primeira coisa que precisa ser dita sobre Os Infiéis tem a ver com seu formato, que não segue o modelo tradicional e apresenta uma série de contos e esquetes rápidas, que se encaixam de alguma forma. Entre os temas debatidos, a idade do lobo, viagem a trabalho, a rotina do casório e os viciados em sexo. Mas se enganam aqueles que acham que a abordagem será puramente machista, pois a "trama" surpreende, reservando espaço para as outras alas. Nesse sentido, o filme foi até fiel a ideia de falar sobre a traição, presente a todo momento. 

Dito isso, vale lembrar que a comédia é francesa e, no seu país de origem, arrebentou nas bilheterias. Um dos motivos é a provável conexão direta com um humor que invade, sem cerimônia, o lado mais grosseiro da piada. Para se ter uma ideia, os cartazes internacionais da campanha de lançamento foram tirados de circulação, devido às imagens bem humoradas, porém erotizadas ao extremo. Com esse exemplar francês, quem integra o time que torceu o nariz para o brasileiro E Aí... Comeu? corre o risco de parecer a Samantha do seriado A Feiticeira, que mexia o nariz para fazer sua magia. Mesmo sem poderes especiais, Jean Dujardin, mais conhecido depois do merecido sucesso de O Artista, idealizou, escreveu, dirigiu, produziu e atuou em Os Infiéis. E contou com o auxílio luxuoso de Gilles Lellouche, outro carismático ator francês que só não produziu, mas se aventurou nas outras áreas. O resultado é um longa curto (pouco mais de 100 minutos) que passa rápido diante de você.

Sem medo de errar, dá para afirmar que é possível gargalhar e também não achar a menor graça seja por uma simples barreira do idioma, questões culturais ou de momento, mas nada que justifique desprezar essa experiência. Para quem deixar o preconceito de lado, a entrada e permanência dentro da sala escura pode ser recompensadora. Ainda mais se a semana ou o dia foram tensos. O formato picotado em histórias permite que você não se sinta na obrigação de buscar envolvimento, o que para um filme sobre infidelidade parece soar perfeito. Aí, gostar ou não dependerá única e exclusivamente de sua abertura mental.

As situações retratadas transitam sem o menor pudor entre as normais e as bizarras, no tamanho grande ou pequeno (das histórias), e elas acabam transando entre si. Entre os destaques positivos, a sacana "homenagem" à famosa dupla de ilusionistas de Las Vegas, Siegfried & Roy (e seus felinos albinos), e o final bombástico que traduz - literalmente - a famosa frase "o que acontece em Vegas, fica em Vegas". Ponto também para a sacada de que "botar a mãe no meio" não é o melhor caminho para se conduzir uma conversa. De negativo, alguns enquadramentos e zooms meio toscos, sem contar as passagens entre as histórias, que poderiam ter uma solução bem melhor do que a fria (e feia) tela preta. Mas exigir demais de uma obra dirigida por oito, escrita por cinco, produzida por quatro e montada por dois (olha a orgia!) é até sacanagem. Portanto parceiro(a), relaxa e goza com esse ménage, quer dizer, filme.