Críticas AdoroCinema
2,5
Regular
O Último Amor de Mr. Morgan

Bipolar

por Francisco Russo

O cinema mundial costuma ter dificuldades ao retratar questões pertinentes à terceira idade, seja pelo ritmo naturalmente mais lento da história, pela possibilidade da morte iminente ou até mesmo porque boa parte do público que acompanha cinema é formado por jovens e, com isso, a produção cinematográfica acaba se voltando para temas mais familiares a eles. Diante disto, há uma ameaça constante que ronda os grandes atores, que enfrentam uma dificuldade cada vez maior em encontrar bons papéis à medida que envelhecem – isto em qualquer país, é bom ressaltar. O Último Amor de Mr. Morgan é um raro exemplar que foge desta tendência, trazendo um octagenário como personagem principal e, mais do que isso, abordando algumas de suas angústias.

O personagem em questão é o mr. Morgan do título, interpretado com competência por Michael Caine. Por mais que more em Paris, ele está na mais absoluta solidão há três anos, desde quando sua amada esposa faleceu. O tempo livre é ocupado por aulas ocasionais de inglês, bem como ligações e visitas inconstantes dos filhos e neto, que moram longe. Esta melancolia constante dá o tom da primeira metade do longa-metragem, ressaltada pela trilha sonora suave que acompanha o encontro entre Morgan e Pauline (Clémence Poésy, mais conhecida como a Fleur Delacour da série Harry Potter). Ele vê nela a imagem de sua falecida esposa, enquanto que ela vê nele a imagem do pai. A aproximação é inevitável, devido à necessidade de ambos em encontrar algo que fora perdido.

Entretanto, esta delicada ambientação calcada nos sentimentos é jogada para escanteio, de forma bastante abrupta, na segunda metade do longa-metragem. Mais exatamente, a partir do momento em que os filhos de Morgan entram em cena. É quando a trama segue por um caminho óbvio e burocrático, com vários degraus da difícil tarefa de estabelecer um relacionamento sendo saltados sem muito pensar, apenas com o objetivo de dar um desfecho previsível a um encontro que, a princípio, aparentava ser bastante promissor.

Diante desta inconstância de roteiro, O Último Amor de Mr. Morgan é um filme que engana bastante. Afinal de contas, ele usa o pretexto de abordar a solidão na terceira idade para, mais uma vez, falar dos jovens, deixando até mesmo seu personagem principal em segundo plano a partir de determinado momento. Acaba se tornando um filme banal, sem grandes atrativos. Como curiosidade, fica a rápida e surtada aparição de Gillian Anderson, em uma personagem bem diferente da consagrada agente Scully da série Arquivo X.