Um Alguém Apaixonado: Crítica AdoroCinema

O diretor Abbas Kiarostami conquistou a crítica quando decidiu ousar. Deixou seu Irã natal e foi rodar Cópia Fiel em plena Itália, usando três línguas distintas em uma história que tinha como mote principal a discussão sobre se a cópia tinha tanto valor quanto o original. Para provar a teoria, colocou Juliette Binoche e William Shimell numa espécie de jogo, onde eram e ao mesmo tempo não eram um casal de verdade. A resposta, cabia ao espectador deduzir. Em Um Alguém Apaixonado, seu novo filme, Kiarostami tenta repetir a proposta, mas sem o mesmo sucesso.

Desta vez o diretor parte para o Japão, outra terra estranha em sua filmografia, e mais uma vez cria um enigma para o público decifrar. Afinal de contas, o espectador praticamente não recebe informações sobre Akiko (Rin Takanashi), uma garota que está em uma boate e é enviada para encontrar alguém, que nem mesmo ela sabe quem é. Por mais que pela dedução logo seja possível perceber qual é sua profissão, é seu caminhar pelo desconhecido a maior atração do filme. Akiko não sabe o que vai acontecer, assim como o espectador. Este "mistério em tempo real" traz ao filme um ar enigmático, que prende a atenção.

Entretanto, tamanho mistério dura pouco tempo e, pouco a pouco, se transforma em uma história menor e, vá lá, corriqueira. É neste ponto que Um Alguém Apaixonado mais se distancia de Cópia Fiel; enquanto o filme anterior ia em um crescendo hipnotizante, este acaba murchando. Por mais que Kiarostami ofereça ao espectador imagens belíssimas, explorando principalmente os reflexos dos atores e objetos, a trama em que os personagens mais uma vez trocam de posições no decorrer da narrativa desta vez não traz a mesma força. Acaba sendo decepcionante, ainda mais devido ao final abrupto e em aberto.

Apesar da derrota na inevitável comparação com Cópia Fiel – são filmes bastante parecidos na essência e, ouso dizer, não existiria se o longa anterior não tivesse feito tanto sucesso -, ainda assim Um Alguém Apaixonado merece ser visto. Trata-se de um filme bastante interessante em sua proposta sobre como trabalhar o desconhecido para o espectador, além da manipulação dos personagens de acordo com os eventos que surgem. Entretanto, é preciso também dizer que seu valor é mais como exercício de cinema do que propriamente pela qualidade do resultado final.