Críticas AdoroCinema
2,5
Regular
Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar

Águas rasas

por Lucas Salgado

Lançado em 2003, Piratas do Caribe - A Maldição do Pérola Negra era quase que o blockbuster perfeito. Com um elenco incrível, com todos os atores com ótima química entre eles, o filme funcionava como comédia, ação, aventura e até mesmo romance. Faturou US$ 654 milhões nas bilheterias mundiais e garantiu de imediato duas continuações, algo realmente fabuloso para um projeto que nasceu como adaptação de umas das atrações mais chatinhas dos parques da Disney.

Piratas do Caribe - O Baú da Morte (2006) e Piratas do Caribe - No Fim do Mundo (2007) não foram tão bons quanto o original, mas mantiveram um padrão de qualidade e conseguiram fechar bem a história de Elizabeth Swann (Keira Knightley) e Will Turner (Orlando Bloom). A saga do capitão Jack Sparrow (Johnny Depp), no entanto, seguiu em frente e gerou o fraco Piratas do Caribe - Navegando em Águas Misteriosas (2011).

Neste caminho, é curioso notar como Sparrow foi roubando o posto central da história. Se no primeiro filme o foco estava no casal, isso muda a partir dos próximos. Isso foi possível graças a uma atuação realmente especial de Depp e a construção de um personagem de fato inusitado e bem desenvolvido. O problema é que é um tipo tão característico e tão exagerado que é também de fácil desgaste. E foi o que aconteceu. Não só por ser parte importante de cinco filmes, mas também pelo fato dos fãs terem a impressão de que viram Sparrow em inúmeros outros filmes estrelados por Johnny Depp. É possível dizer que Depp era Jack Sparrow no primeiro filme, enquanto que no quinto, Sparrow é Johnny Depp.

Mesmo faturando mais de US$ 1 bilhão nas bilheterias de todo mundo, Navegando em Águas Misteriosas se mostrou o fundo do poço para a franquia, obrigando o estúdio a tomar uma atitude para reviver a mesma. E qual foi a solução? Buscar os retornos de Bloom e Knightley. Tal escolha se revela uma opção mais comercial do que narrativa, uma vez que o casal tem participação bem singela em cena. São citados inúmeras vezes, mas o tempo em tela é minúsculo.

Piratas do Caribe - A Vingança de Salazar conta a história de Henry Turner (Brenton Thwaites), filho de Elizabeth e Will que tenta de todas as formas encontrar uma solução para a maldição do pai. Ele descobre que o Tridente de Poseidon é a única forma de acabar com as maldições do mar e sai em busca do objeto. Ele conta com a ajuda da jovem Carina (Kaya Scodelario) e do eterno Jack Sparrow. O percurso, no entanto, não será fácil, uma vez que o vilão Salazar (Javier Bardem) busca se vingar de Jack por uma derrota no passado.

Se o filme anterior navegava por águas misteriosas, o novo caminha por águas bem rasas. Trocadilhos à parte, é uma obra superior à anterior, mas que segue com muitos problemas. A verdade é que a cada longa que passa a franquia se aproxima, em níveis de profundidade, do brinquedo original da Disney. É simpático e atrativo para os olhos, mas completamente superficial.

Precisando de um sucesso após problemas em sua vida pessoal e profissional, Depp volta ao seu personagem mais famoso. E ele não sai do piloto automático, investindo nas mesmas caretas e tiques. Ainda assim, se destaca ao ser colocado ao lado de um protagonista sem carisma como Thwaites. É clara a intenção da produção em fazer de Henry e Carina novas versões de Will e Elizabeth, mas eles passam muito longe disso.

O destaque do elenco acaba sendo Geoffrey Rush, que retorna como o capitão Barbossa. Aqui, podemos ver um lado mais humano do personagem, reforçado pelo talento do ator. Bardem está bem, mas não recebe um roteiro que lhe permite criar um vilão realmente ameaçador. A escolha do ator parece motivada pela simples capacidade de soltar uma palavra ou outra em espanhol. Há ainda uma simpática e discreta participação do beatle Paul McCartney.

Pirates of the Caribbean: Dead Men Tell No Tales (no original) conta com uma direção confusa da dupla Joachim Rønning e Espen Sandberg, responsáveis por Bandidas e A Aventura de Kon Tiki. Ao lado do diretor de fotografia Paul Cameron, os cineastas acabam entregando cenas de ação confusas e prejudicadas pelo excesso de efeitos e por momentos muito escuros. No geral, os efeitos são bons, com destaque para alguns tubarões fantasmas vistos em cenas.

Como acontece nos filmes anteriores, a trilha é um elemento importante da história. Mas acaba que o destaque não vai para os temas originais de Geoff Zanelli, mas sim para os momentos em que a trilha original de Klaus Badelt é reproduzida.

Não foi com A Vingança de Salazar que a saga Piratas do Caribe retomou a qualidade de antigamente. E, a verdade, é que isso não parece nem um pouco perto de acontecer. Pode continuar rendendo uma boa sessão acompanhada de pipoca, mas com uma história que será esquecida pelos fãs em poucos dias.

OBS: há uma cena após os créditos finais da produção.