Críticas AdoroCinema
4,0
Muito bom
Killer Joe - Matador de Aluguel

A sordidez humana

por Francisco Russo

É preciso avisar de antemão: Killer Joe - Matador de Aluguel não é filme para quem tem estômago fraco. Pesado, brutal e com pitadas de sadismo, o novo trabalho do diretor William Friedkin (do clássico O Exorcista) não poupa o espectador em cenas com muito sangue e uma boa dose de humilhação. Entretanto, nada disto denigre o filme. Killer Joe precisa destes elementos para abordar com propriedade a história de pessoas absolutamente sórdidas, daquelas que pouco se importam com o outro e querem apenas se dar bem na vida.

Tudo começa quando o jovem Chris (Emile Hirsch) precisa conseguir US$ 6 mil o quanto antes, caso contrário será morto. Ele pede ajuda ao pai (Thomas Haden Church) e, juntos, decidem embarcar na ideia de mandar assassinar a mãe de Chris, cujo seguro de vida vale US$ 50 mil. Só que nenhum deles tem a experiência – e a capacidade – necessária para cometer tal crime, o que faz com que apelem a Killer Joe (Matthew McConaughey, sensacional). Joe é, ao mesmo tempo, detetive da polícia e matador profissional, daqueles que fazem o serviço sem deixar quaisquer vestígios. Só que ele exige o pagamento à vista, algo que Chris e seu pai não tem. Após conhecer a bela Dottie (Juno Temple), irmã de Chris, Joe propõe a ele um acordo: fica com a garota como caução até que lhe pague pelo serviço. Trato feito!

O acordo fechado entre Joe e a família Smith é apenas a ponta do iceberg do quão dispostos estão cada um deles de sacrificar tudo em nome do dinheiro. Nesta realidade, a jovem Dottie funciona como uma espécie de representação da pureza que acaba sendo sugada diante de tamanha sordidez. De ar angelical, virgem e sempre com uma iluminação que a favoreça, Juno Temple compõe uma personagem até certo ponto abobalhada, justamente pela ausência de malícia perante os que a cercam. Entretanto, à medida que ela lida com Joe, seu semblante e atitudes mudam de forma que ela também possa levar o seu quinhão na história.

Em meio a tantos personagens egoístas, quem consegue se sobressair é o Joe de Matthew McConaughey. Sempre sério, ele tem rompantes brutais onde demonstra sentir prazer com a humilhação do outro. Neste ponto, mérito também para o diretor William Friedkin, pela coragem de não poupar o espectador de cenas fortes nem de esconder a nudez de suas atrizes, algo essencial diante da história como um todo. O sexo, aqui, ganha ares carnais e é também um meio de satisfazer o outro, sendo mais um elemento a ser negociado.

Killer Joe é um grande filme, que conta com diálogos afiados rumo a um clímax desconcertante, pelos eventos ocorridos e também pelo modo como são retratados em cena. Com um ótimo elenco e um diretor ainda em forma, apesar de seus 77 anos, trata-se de uma bela pedida para quem não tem medo de encarar uma história por vezes indigesta, mas ao mesmo tempo impressionante.