Nem só de boas intenções se faz um filme
por Francisco RussoNão é de hoje que Angelina Jolie tem dedicado seus esforços a trabalhos humanitários, tanto que acabou nomeada embaixadora da boa vontade pela ONU. Apesar disto, a escolha por iniciar sua carreira como diretora de ficção justamente com um longa-metragem sobre o conflito entre sérvios e bósnios, em plena Guerra da Iugoslávia, foi bastante arriscada. Nem tanto por se lançar na nova função, mas especialmente pelo tema árido escolhido, bem distante da realidade de Jolie. Pela ousadia, ela já merece elogios. O problema é que o mesmo motivo que a levou a rodar Na Terra de Amor e Ódio é também a causa do filme ser tão fraco.
No decorrer do filme fica nítido qual era o interesse de Jolie ao rodá-lo: expor ao mundo as atrocidades cometidas pelos sérvios contra o povo bósnio, causando o maior extermínio humano visto desde a Segunda Guerra Mundial. Para tanto, a diretora e também roteirista não se acanha em explicar bem didaticamente o passo a passo do conflito, para que o povo do ocidente possa compreendê-lo nos mínimos detalhes. O problema é que os diálogos são tão ingênuos e básicos que, em vários momentos, resultam em cenas toscas para o filme como um todo. A sensação que fica é que por vezes Angelina breca a narrativa apenas para ressaltar os absurdos cometidos, deixando de lado a história em nome de um grande alerta ao mundo. Ou seja, a embaixadora da ONU acaba falando mais alto do que a diretora.
Por outro lado, Na Terra de Amor e Ódio é um filme bem dirigido. Contando com a fotografia em tom seco de Dean Semler, Angelina demonstra habilidade ao conduzir a história entre a bósnia Ajla (Zana Marjanovic, bastante expressiva) e o sérvio Danijel (Goran Kostic), que poderiam ter tido uma linda história de amor, sem qualquer preconceito, caso a guerra não tivesse estourado. O relacionamento nascente entre eles é o que sustenta o filme, especialmente devido aos pontos de vista distintos de cada um. Enquanto Ajla o vê com um misto de esperança de sobrevivência e medo pelo que ele pode fazer, Danijel nutre por ela uma paixão que sofre forte influência dos ideais xenófobos que carrega consigo. Uma mistura explosiva que é, também, uma representação simplista das sensações carregadas pelos povos dos dois personagens.
Repleto de boas intenções, Na Terra de Amor e Ódio carece de um olhar mais apurado sobre o que o filme pretende ser. Como cinema, há claríssimas falhas na condução da história, com personagens desaparecendo e retornando sem grandes explicações e um excesso de maniqueísmo impregnado ao longo de sua duração. Como denúncia o filme funciona melhor, apesar do excesso de ingenuidade prejudicá-lo em certos momentos. Fica a esperança que, em seu próximo projeto como diretora, Angelina Jolie consiga entregar um filme mais redondo, mas por este trabalho já é possível perceber que ela leva jeito para a função.