Críticas AdoroCinema
3,0
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Tarzan - A Evolução da Lenda

Piruetas na selva

por Francisco Russo

Pode Tarzan e os dinossauros habitarem a mesma história? Na mente dos roteiristas de Tarzan - A Evolução da Lenda, sim. A insólita ligação, apresentada logo na primeira cena do longa-metragem, causa um certo espanto, mas com o caminhar da trama começa a ser melhor digerida. A bem da verdade, os dinossauros não habitam a selva no mesmo período de Tarzan, mas foi sobre o meteoro que devastou a Terra há milhões de anos que nasceu a floresta a qual ele chama de lar. Sim, em pleno coração da África. Espere um momento: África?!?

Pois é, este é apenas um dos absurdos geográficos apresentados no filme. Além de transferir a queda do meteoro da América Central para o continente africano, os criativos roteiristas conseguiram alojar na distância de poucos quilômetros uma típica floresta tropical, cataratas suntuosas, um vulcão à beira da erupção (com direito a lava louca para ser expelida) e ainda uma vasta camada de neve do lado de fora deste mesmo vulcão. Isso sem falar no ambiente meio alienígena que cresceu perto da caverna onde o tal meteoro ficou alojado. Ou seja, trata-se de uma selva para todos os gostos, uma verdadeira salada mista.

Maluquices climáticas à parte, Tarzan - A Evolução da Lenda busca recriar a clássica história de Edgar Rice Burroughs para algo mais próximo do que atrai a garotada dos dias atuais. Daí vem os dinossauros, assim como a pegada mais voltada para a aventura. Sim, Tarzan continua sendo um jovem criado na selva, salvo da morte por um macaco fêmea. Sim, ele continua se apaixonando por Jane - mas ela agora é filha de um explorador que trabalha para uma empresa que está bem interessada na capacidade do tal meteoro em gerar energia, muita energia. Ou seja, o capitalismo selvagem e que despreza o valor da natureza é o vilão da vez. Atual, não?

Por mais que seja um tanto quanto chocante para os tradicionalistas, é preciso dizer que as mudanças até mantêm uma certa lógica - com exceção da salada climática - e trazem um certo frescor à uma história tão batida. Ainda mais se for comparar este novo Tarzan com seu homônimo produzido pela Disney, também na animação. Se antes havia uma aposta em animais fofinhos e canções, aqui a natureza é apresentada de forma mais animalesca. Digamos assim: os símios estão mais próximos dos atos vistos em Planeta dos Macacos - A Origem, o que também ajuda a criar um dos pontos fortes deste novo Tarzan: a diversidade da selva.

É quando se estabelece na selva e no mundo de Tarzan que a animação enfim cresce, seja pelos tons de verde da mata fechada ou pela animação que lembra bastante o grafismo do videogame. Repleto de cenas de ação em primeira pessoa, o filme capricha nos saltos e piruetas de Tarzan, bem explorados pelo competente efeito 3D. São estas cenas, aliadas ao visual exuberante da natureza, que seguram o filme nos momentos em que sua principal falha vem à tona: a falta de vida nos humanos de animação. Tirando o próprio Tarzan, que é quase um humanóide, nenhum dos demais humanos convence. Todos parecem bonecos biônicos, cujos rostos e braços se mexem de forma mecânica, nitidamente artificiais. Jane ainda consegue escapar em algumas sequências, mas também enfrenta problemas.

Diante de tantas mudanças, Tarzan - A Evolução da Lenda convence. Especialmente aos garotos, que têm a chance de ver nas telonas uma aventura bem agitada que explora com habilidade a capacidade dos efeitos tridimensionais. Aos pais que os acompanham, fica o alerta: dá para assistir e até se divertir também. Mas não se esqueça daquela liçãozinha básica pós-sessão, sobre os tais absurdos do filme. A criança agradece: pelo filme e pela explicação.