Homenagem ao clássico
por Lucas SalgadoLuz nas Trevas foi pensado e idealizado pelo cultuado diretor Rogerio Sganzerla como uma sequência para O Bandido da Luz Vermelha, marco do cinema brasileiro dos anos 60. O cineasta, no entanto, faleceu em 2004, antes que conseguisse dar segmento ao projeto, fazendo com que fosse engavetado.
No início de 2009, a esposa de Rogério, Helena Ignez, e as filhas Djin Sganzerla e Sinai Sganzerla decidiram retomar a ideia e realizar Luz nas Trevas - A Volta do Bandido da Luz Vermelha. Uma das musas do Cinema Marginal, Helena assumiu as funções de diretora (ao lado de Icaro C. Martins), roteirista e atriz, além de ter auxiliado na trilha sonora, enquanto que Sinai ficou com o cargo de produtora. Destaque em Meu Nome é Dindi, Djin atuou no novo filme e ainda exerceu a função de coordenadora de produção.
Como podem ver, o longa foi praticamente um esforço em família, o que demonstra um comprometimento dignos de aplausos. Também merece destaque a opção por Ney Matogrosso no papel principal, ou seja, o do Luz Vermelha, agora em uma prisão de segurança máxima. A história aborta ainda o filho do bandido, que também optou por uma vida no crime, sendo conhecido pela alcunha Tudo ou Nada. O novo personagem é vivido por Andre Guerreiro Lopes, que é marido de Djin Sganzerla. Os dois protagonizam algumas cenas intensas lado a lado, conseguindo despertar o interesse do espectador.
A produção possui um vigor destacável, com toda a equipe preocupada em respeitar e, principalmente, celebrar o clássico de 68. O filme, no entanto, falha ao tentar caminhar com as próprias pernas. O erro, que fique claro, não está em buscar uma narrativa própria, o que é importantíssimo, mas sim no fato de não conseguir. O excesso de personagens coadjuvantes, como os de Bruna Lombardi, Sandra Corveloni, Maria Luisa Mendonça e Simone Spoladore, atrapalha o bom andamento da trama.
Há também uma falta da visão e de compromisso com o projeto o fato de colocarem Ney Matogrosso em um número musical em que canta "Sangue Latino". Embora a música tenha um arranjo diferente, feito exclusivamente para o filme, a cena revela-se um tiro no pé, pois joga fora todo o excelente esforço de colocarem o músico como ator. A impressão que fica é que quiseram aproveitar o fato de terem o artista na produção para colocá-lo fazendo aquilo que faz melhor, mas a verdade é que a apresentação quebra toda a imersão em seu personagem.
Trazendo uma montagem confusa de Rodrigo Lima, que torna o filme numa espécie de sucessão de esquetes, Luz nas Trevas possui uma bela trilha sonora, com músicas de Jorge Ben Jor, Gilberto Gil e Lenin Gordin.