JUST(IN) FEVER?
por Roberto CunhaUma das primeiras coisas que vieram à mente quando esta produção foi anunciada era a relevância da vida ou carreira de alguém que começou “ontem”. Afinal, com um primeiro álbum lançado em 2009, o que significa uma cinebiografia em 2011? A resposta, queira ou não, você pode encontrar neste documentário. E não precisa ser do time que se descabela para (até) gostar do filme, entender o porquê dele e, quem sabe, virar fã. Ops! Aí já pode ser demais.
O documentário não é legendado e nem dublado. A opção foi pelo voice over, técnica comum em transmissões ao vivo com tradução simultânea. Ou seja, você ouvirá sempre a voz original, seguida de uma dublagem para o português. Feitas as devidas apresentações, o que te espera na sala escura é uma história que tem como pano de fundo a realização de um sonho: cantar no lendário Madison Square Garden, em Nova York. Tudo começa com uma simulação do que seria uma caixa postal eletrônica de alguém encaminhando um link de um vídeo musical publicado na internet. E assim rola essa espécie de história de princesas apaixonadas por um príncipe da atualidade, do twitter e, por isso, mais acessível do que os outros. “Ele é um garoto comum”, diz uma fã.
Filho de mãe solteira e religiosa, imagens caseiras mostram o talento nato com instrumentos musicais, a aventura de tocar na rua por trocados ou disputando um concurso público aos 12 anos. Descobre-se também que os tais vídeos publicados na internet dele cantando, por exemplo, músicas de Chris Brown, eram para mostrar para familiares distantes. E aí, como o que acontece na rede mundial não fica em família, um pequeno, e visionário, empresário americano viu e gostou. Daí em diante, é interessante notar a conquista do moleque branco canadense no território do R&B (rhythm and blues), tradicionalmente dominado pelos negros americanos, provocando essa miscigenação musical também conhecida como Bieber Fever (Febre Bieber).
O roteiro é simples, mas parece ter sido prejudicado pelo uso irrelevante do 3D, mero artifício para rentabilizar a venda do ingresso. Com isso, evitou-se usar imagens de arquivo, que certamente dariam maior peso, direcionando boa parte delas para os créditos finais. Assim, a parte “dramática” se restringe a uma rouquidão (?) causada pelos mais de 80 shows antes do tal grande dia. Dirigido por Jon Chu (Ela Dança, Eu Danço 3D), o filme é correto e a edição ajuda a envolver o espectador que tenha um mínimo de abertura musical. A trilha sonora pode não conter pérolas, mas é inegável o talento para compor hits grudentos. Lembre-se que o carinha da "franja jogada para o lado" ainda é o único do ranking da Bilboard (a bíblia da música) a ter quatro músicas no Top 40 antes do primeiro álbum lançado. E sem que uma delas seja a indefectível “Baby”. Oh!!!
Entre as participações especiais, Justin Bieber canta com Jaden Smith a canção tema de Karate Kid e que dá nome ao documentário, tem ainda Miley Cyrus, Usher, Snoopy Dog, Boyz II Men, entre outros. Mas não se engane, pois o foco é o ex menino e agora adolescente ligado no 220 v, que até já compararam (?) com os Beatles. Fenômeno ou tremenda enganação, o fato é que este objeto de idolatria, e fruto da internet, não deixa dúvidas para muitos e os fãs contam (e cantam) com essa certeza. Agora, nobre leitor(a), só resta a você assistir e concluir se o sucesso veio para ficar ou se é just (in) fever.