Críticas AdoroCinema
3,0
Legal
Lula, o Filho do Brasil

Cinema Político

por Francisco Russo

Uma aura de polêmica tomou conta de Lula, o Filho do Brasil. Não pelo filme em si, mas pelo momento em que será lançado: em pleno ano eleitoral. Pior ainda, no ano em que será definido o sucessor de Lula, a estrela do longametragem. Peça publicitária, propaganda política, manipulação eleitoreira... todas estas acusações já foram e serão feitas pelos próximos meses. É inevitável.

Não é de hoje que o cinema anda de mãos dadas com a política. Desde usar o assunto como denúncia, como fez Costa-Gavras em Z e Desaparecido, até tentativas de usar a sétima arte para influenciar as pessoas, como Michael Moore assumidamente fez com Fahrenheit 11 de Setembro em sua campanha anti-Bush. Lula, o Filho do Brasil, ao menos oficialmente, não tem esta intenção. Caso fosse sobre qualquer outro político nacional, não geraria tamanho protesto. Mesmo se o retratado fosse o presidente da república. A questão não é o cargo, mas sim o alvo, ou melhor, sua popularidade. Se por um lado o filme se aproveita da simpatia pré-existente para angariar público, por outro ele auxilia a popularizar e, por que não?, mitificar o protagonista. Este é o grande temor.

Um medo fundamentado, diga-se de passagem. Lula, o Filho do Brasil é o típico filme de superação, onde o herói enfrenta e vence diversos obstáculos. Quem conhece a história de Lula sabe que eles não são poucos nem pequenos. Soma-se a isto a identificação do brasileiro com a história, por vivenciar tais problemas em seu dia a dia, e pronto. O próprio cinema nacional teve recentemente um caso de sucesso que seguiu esta fórmula, com 2 Filhos de Francisco. Não é a toa que a expectativa geral é que os atuais recordes sejam quebrados com o filme.

Mas, deixando de lado a questão política, é preciso dizer que trata-se de um bom filme. Amparado principalmente por duas belas interpretações, de Glória Pires e Rui Ricardo Diaz, e por uma elaboração cuidadosa, que gerou cenas que marcam. Uma delas é o discurso de Lula no estádio do Pacaembu, pelo recurso utilizado para transmitir o que era dito a todos os presentes. Simples, criativo e fiel à realidade. O próprio início do longametragem, retratando a dura vida no sertão nordestino e o abandono do pai, interpretado por Milhem Cortaz, em uma sequência quase sem diálogos, merece atenção.

É possível também reconhecer diversas características do verdadeiro Lula, como as analogias com o futebol e o uso de metáforas simplórias. Neste ponto quem se destaca é dona Lindu, com seus diversos provérbios populares. Um deles, "é só teimar", é uma espécie de síntese do longametragem, uma aula transmitida ao filho sobre a necessidade de perseverar. O final, onde são usadas cenas reais com a narração de Rui Ricardo Diaz, é a consagração deste pensamento.

É claro que há também mudanças de forma a valorizar os feitos do protagonista, de torná-lo mais heróico. A defesa da mãe, dizendo que homem não bate em mulher, é uma delas. As cenas em que Lula rejeita o uso da violência ou a corrupção no sindicato também servem como exemplo. Ressaltar o perfil e os feitos do protagonista é algo comum em cinebiografias, mas que aqui ganha um maior impacto exatamente pelo peso político que o filme possui. É, também, inevitável não associá-lo ao ambiente político o qual está sendo lançado. Se irá influenciar em algo, ou o quanto irá influenciar, apenas o futuro responderá. De qualquer forma, trata-se de um bom teste para a democracia brasileira.