Críticas AdoroCinema
1,0
Muito ruim
Como Agarrar Meu Ex-Namorado

Sem comédia, nem ação

por Bruno Carmelo

A abertura, em animação, sintetiza bem o que vem pela frente: pés vestidos com sapatos vermelhos, de salto alto, correm pela cidade, enquanto uma mão escolhe, entre várias balas de revólver, um solitário batom vermelho, logo passado nos lábios. Este fragmento tenta explorar a aparente contradição que se acredita existir entre feminilidade e agressividade, ou ainda entre a comédia romântica e a ação.

Na verdade, estes dois gêneros são irmãos, e fáceis de combinar. No que diz respeito ao ritmo, tanto a comédia quanto a ação exigem uma cadência acelerada, funcionando bem com montagem cortadas, do tipo que busca a sensação mais do que a compreensão – ao contrário dos suspenses e dramas, que necessitam de um ritmo lento e gradativo. Combinar humor e aventura também é uma boa sacada de mercado, pois ao visar o público feminino e masculino ao mesmo tempo, amplia-se o potencial de bilheteria (vide o sucesso atual de Guerra é Guerra!).

Neste sentido, Como Agarrar Meu Ex-Namorado parecia ser o perfeito produto de mercado: simples, repleto de fórmulas, prestes a dar aos casais na sala escura exatamente o que eles procuravam. A premissa também poderia ter um bom potencial cômico: Stephanie Plum (Katherine Heigl), uma jovem sem trabalho nem dinheiro, torna-se uma caçadora de recompensas desengonçada e amadora, que tem como primeira missão capturar um antigo namorado, aquele que lhe roubou a virgindade e desapareceu no dia seguinte.

O primeiro problema é que, para a incursão no subgênero "comédia romântica com ação", existe pouca comédia, pouquíssimas cenas de ação e apenas raras insinuações de histórias de amor. O roteiro é feito de facilidades, ao invés de obstáculos: Stephanie investiga os homens mais sanguinários, mas todos os perseguidos estão andando nas ruas, prestes a serem vistos e abordados. Qualquer pessoa que ela encontra lhe fornece informações valiosas, sem hesitar. A investigação é monótona, assim como o romance: dois tipos musculosos (Jason O'Mara e Daniel Sunjata) flertam com ela, mas nenhum dos dois realmente a seduz. Como Agarrar Meu Ex-Namorado é um romance sem um único beijo, um filme de ação sem corridas nem tiros, uma comédia sem humor.

Diante deste marasmo, salta aos olhos o amadorismo da parte técnica, algo surpreendente para uma produção que custou US$40 milhões. Parece que a equipe foi filmar sem um único técnico de som direto (porque raios os escritórios e lanchonetes não têm ruídos de ventilador, de papeis, de conversa, de pessoas andando?), sem um único maquiador (a pobre Katherine Heigl brilha de suor do começo ao fim, enquanto as peles dos outros personagens estão secas e limpas), e com um diretor de fotografia míope, capaz de focar no joelho da personagem e desfocar em seu rosto. Tecnicamente, este parece ser um exercício de escola de cinema, executado por alunos principiantes. Soma-se o ritmo lento da edição – o montador nunca deve ter feito uma comédia na vida – e o roteiro inofensivo, e tem-se uma produção que consegue a façanha de desagrada tanto gregos quanto troianos, decepcionando como romance, como comédia e como filme de ação.