Críticas AdoroCinema
3,5
Bom
Super 8

Paixão pelo Cinema

por Francisco Russo

Toda criança já ouviu a batida pergunta sobre o que vai ser quando crescer. A maioria responde desde profissões tradicionais – engenheiro, médico, etc – até outras da moda – jogador de futebol, ator, BBB e outros tantos. E se a resposta for cineasta? É esta a situação dos garotos de Super 8, que estão longe de se interessar por carrinhos ou bonecas – a não ser que eles sirvam como objetos de cena. Brincadeira para eles é criar histórias próprias feitas na base do improviso, no melhor estilo “uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”. Vasculhar as referências presentes em livros e no próprio cinema para criar algo que beba de várias fontes e, ao mesmo tempo, seja autoral. Permitir que a paixão aflore, da maneira como a vida permite, até mesmo para amenizar os problemas do dia a dia.

É em meio a este sonho que vivem Joe, Charles, Alice, Cary e Martin. Cada um com personalidade e problemas próprios, mas todos picados pelo mosquito do cinema. Acompanhar cada um deles e, em especial, quando estão todos reunidos é o que o filme oferece de melhor. São momentos de ingenuidade, companheirismo, euforia e medo típicos da pré-adolescência, mesclados a uma época onde o mundo ainda vivia a Guerra Fria e o walkman era novidade. Como resultado surgem momentos leves, seja por situações ocorridas ou por breves falas que situam o período retratado.

Por outro lado, há como pano de fundo um grande mistério, revelado apenas no quarto final do filme. J.J. Abrams demonstra habilidade em conduzi-lo, sem dar muitas pistas ao espectador, apesar de por vezes fazer com que a história perca o ritmo adequado. O desconhecido passageiro do trem que descarrilha na pequena cidade de Lillian, em cena impactante que revela a qualidade do som, é o fio condutor de uma história que, na verdade, está mais interessada em falar dos protagonistas mirins. Talvez por isso haja tamanho desleixo na conclusão de Super 8, com um final pouco convincente e com ecos de E.T., o Extra-terrestre e Distrito 9.

Super 8 é um bom drama mesclado com mistério, que conta com personagens carismáticos e bem interpretados. Da trupe quem se sai melhor é Elle Fanning, especialmente quando grava uma cena pela primeira vez. O impacto diante dos colegas, e também do público que a assiste, é evidente. Destaque para o filme dentro do filme exibido durante os créditos finais, claramente inspirado em George Romero e que abusa, deliciosamente, do espírito trash. Pena que a diversão por ele proporcionada não se repita no restante de Super 8, apesar de alguns momentos bem humorados.