Críticas AdoroCinema
4,0
Muito bom
Hahaha

O coração dos bêbados

por Bruno Carmelo

Os personagens que povoam este filme sul-coreano pertencem a uma categoria muito particular. São jovens adultos de gostos e ambições modestos, impulsivos, que dizem o que pensam, para depois se arrependerem, voltarem atrás, chorarem, gritarem. Este não é um terreno de racionalidade: os homens e mulheres estão embriagados durante a metade da história, e têm os humores alterados também pelos amores, pela comida, pelo calor ou pela chuva. Estes personagens são como elementos passivos da natureza, mudando de temperamento de acordo com as mudanças do clima.

O caráter volátil e inconstante pode ser visto também na direção de Hong Sang-soo. O cineasta opta por enquadramentos simples, luzes naturais, mas não hesita em dar zooms ou grandes panorâmicas no meio de um plano, quando bem entende, para ressaltar um rosto ou um movimento dos braços. A câmera e as pessoas estão em constante movimento, mesmo que não haja um destino preciso. Existe uma sensação de aleatoriedade nestas histórias cruzadas, e não seria espantoso se houvesse muita improvisação nos diálogos e nas decisões do diretor.

HaHaHa funciona como uma ode aos perdedores, aos artistas fracassados, aos adultos imaturos. Nenhum personagem tem sucesso nas relações familiares, nem no campo profissional – um é poeta e não consegue escrever, outro é cineasta, mas nunca filmou. Estes pequenos seres falíveis e patéticos são vistos com carinho, de modo que suas inadequações e ingenuidades funcionam tanto para o drama quanto para a comédia. Não existe separação de gêneros neste caso: as mesmas imagens que fazem rir também podem levar à compaixão.

O caráter nostálgico é acentuado pela narração de dois amigos, que contam em off os casos que vivem. Eles conversam exclusivamente durante almoços regados a álcool, e o tradicional "Saúde!" conclui cada fragmento do diálogo. Toda a história de HaHaHa pertence ao passado, evocando tanto saudade quanto arrependimento. As imagens constituem um grande flashback, o que é uma excelente escolha para um filme que pretende evocar sensações ao invés de fatos.

Por fim, em sua leveza e despretensão, esta narrativa consegue se destacar por pequenas cenas tragicômicas, desprovidas de lógica, mas repletas de significado. Um exemplo: em uma cena, a namorada rejeitada corre atrás de seu amor e lhe pede apenas uma coisa: que ele aceite ser carregado nas costas dela, em cavalinho. Ele recusa, por medo do ridículo, mas com tanta insistência, acaba aceitando. Lá se vai o moço nas costas da ex-namorada, que não suporta seu peso. Ambos caem juntos, no meio da rua. Ela se recompõe, honrada, e diz com um tom sério: "É só isso que eu queria. Obrigada". E vai embora.