Marola para uns, terror para outros
por Lucas SalgadoQuando o então presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que a crise econômica de 2008 seria uma "marolinha" no país foi muito criticado por comentaristas políticos e econômicos, mas vendo este Trabalho Interno é possível perceber que não estava tão errado.
O filme busca explicar os motivos da crise e mostrar o impacto da mesma em várias partes do mundo. Na verdade, apesar de ilustrar o ocorrido em países como a Islândia, a França e a China, o grande foco da produção é um só, os Estados Unidos. E o motivo para tanto é bem simples: lá estão os grandes culpados.
Indicado ao Oscar de melhor documentário (prêmio que disputa com o brasileiro Lixo Extraordinário), Trabalho Interno é o mais completo trabalho a tratar do lado sujo de Wall Street e dos problemas resultantes da especulação e dos empréstimos concedidos sem nenhum critério. O longa supera em qualidade e profundidade Capitalismo - Uma História de Amor, que é um bom filme, mas sem dúvida o mais fracos da carreira de Michael Moore (Fahrenheit 11 de Setembro).
É claro que ambos os estilos possuem sua relevância, com o de Moore já tendo sido eficiente diversas vezes, mas aqui cabe destacar a opção do diretor e roteirista Charles Ferguson em se manter por trás das câmeras, o que dá um tom mais sério ao que está sendo dito.
Ferguson também merece destaque por sua qualidade como entrevistador. Ele se mostrou totalmente por dentro do que estava sendo argumentado e questionou duramente quem parecia apenas andar em círculos. Neste sentido, cabe valorizar um trabalho que foi mais de jornalista do que de cineasta - funções que muitas vezes se confundem em um documentário.
Embora pudesse ser mais curto (seus 120 minutos parecem um exagero), Inside Job (no original) é um filme que merece ser conferido. Explica quase que didaticamente a maior crise do século XXI e não se esquiva de apontar culpados. Mas mais do que dizer quem errou, o longa é bom sucedido em apresentar o questionamento: por que nada mudou?
Ao iniciar sua argumentação atacando o governo do republicano Ronald Reagan temi por um filme panfletário pró-partido Democrata, mas logo o filme dedica espaço para criticar ações de Bill Clinton e de Barack Obama à frente do governo dos Estados Unidos, comprovando sua imparcialidade.
Com narração de Matt Damon (Bravura Indômita), Trabalho Interno possui uma edição apenas convencional de Chad Beck e Adam Bolt (também roteiristas do filme), o que acaba contribuindo para a sensação de que poderia ter menor duração. A edição também sofre com uma falta de personalidade que prejudica muito a produção. O ritmo que começa frenético e com muita música (como nos filmes de Moore) logo muda de tom. A divisão do filme em capítulos também é um ponto negativo, uma vez que é uma tática totalmente ultrapassada de montagem e que poucas vezes é essencial pro andamento de uma trama.