De volta ao cinema
por Lucas Salgado60 anos após sua primeira aparição no cinema em Godzilla (1954), a clássica criatura retorna às telonas sobre comando do jovem Gareth Edwards, do ótimo Monstros (2010). O diretor britânico se saiu bem melhor que Roland Emmerich, que tem em Godzilla (1998) um de seus piores trabalhos. Ainda assim, a sensação que fica é que o filme poderia ser ainda mais interessante não economizasse nas cenas de ação e exagerasse no número de personagens.
Os créditos iniciais investem em imagens de arquivos em que vemos os relatos de uma aparição do monstro em 1954 (sim, uma referência ao original). Anos mais tarde, nos deparamos com um casal (Bryan Cranston e Juliette Binoche), que trabalha em uma usina nuclear no Japão (sempre o Japão). Após um misterioso "acidente", a usina é fechada e todo seu entorno transformado em área de quarentena.
A partir daí, somos jogados 15 anos para frente, com o personagem de Cranston ainda buscando informações sobre o ocorrido e colocando o filho (Aaron Taylor-Johnson, completamente diferente de seu Kick-Ass) no meio da confusão. Em pouco tempo, eles descobrem a razão do acidente: a presença de um estranho monstro que se alimenta de radioatividade. Militar norte-americano, o filho então passa a ajudar no combate ao animal, que não está sozinho.
Godzilla (2014) conta com um grande elenco, que traz ainda nomes como Ken Watanabe, Elizabeth Olsen, Sally Hawkins e David Strathairn. Se por um lado o longa desperta o interesse ao investir mais no drama do que na ação, por outro peca ao não conseguir fazer desde drama algo mais profundo ou plausível. O excesso de personagens e, principalmente, de crianças tornam o drama muito previsível e desinteressante.
Assim, resta ao espectador esperar pelas cenas de ação, que são boas, mas que também não são nada originais. No que tange a luta entre criaturas gigantes, Círculo de Fogo é bem mais interessante e empolgante.
Outro problema grave na nova produção é a utilização do 3D. Os principais combates acontecem de noite e o 3D faz tudo ficar muito escuro, prejudicando o resultado final e a qualidade visual da obra. Para quem criou Monstros com apenas dois personagens principais, Gareth Edwards não precisava de tantos personagens desnecessários, como o garotinho ajudado pelo protagonista no Havaí ou a outra garotinha que é salva pelo pai de um tsunami.
Com problemas no roteiro, o longa compensa no lado técnico. A trilha sonora realizada por Alexandre Desplat é discreta e de qualidade, e todo o design sonoro é impressionante. O trabalho de mixagem, que une os sons dos animais com os gritos das pessoas nas ruas é incrível. A direção de fotografia também merece destaque, apresentando uma câmera inquieta, muitas vezes na mão.
Trata-se de uma obra repleta de problemas, mas que possui bons protagonistas e que consegue animar um pouco em sua conclusão, o que sempre causa uma boa impressão.