Aberração
por Francisco RussoUm dos temas mais batidos no cinema é a troca de corpos. De Quero Ser Grande a Se Eu Fosse Você, há uma infinidade de longa-metragens que exploram o tema em suas possíveis variações. Eu Queria Ter a Sua Vida não foge da fórmula estabelecida, mas acrescenta um ingrediente que está na moda: piadas adultas. Reflexo do sucesso de Se Beber, Não Case, que fez com que vários genéricos chegassem às telonas em busca da mesma fatia de bilheteria que consagrou o filme dos amigos que partem para a farra em Las Vegas. O problema é que, neste novo filme, as piadas são tão baixo nível que ele se torna uma grande aberração.
Não é exagero. Afinal de contas, o que dizer de uma cena, logo nos 10 minutos iniciais, em que é mostrado, explicitamente, o peido de um bebê seguido por um jato diretamente no rosto do pai? Por mais que os americanos adorem piadas escatológicas e ultrapassar os limites seja preceito básico deste tipo de comédia, a cena é grotesca. Não apenas pelo que acontece em si, mas também pela exploração física de um bebê. Não pense que é apenas isto. Há várias cenas de nudez gratuita, algumas explorando o bizarro no sexo e outras fazendo associação, mais uma vez, à escatologia. Nem Leslie Mann, principal nome feminino do elenco, escapa. Há sempre uma busca por chocar que acaba, no fim das contas, provocando uma forte repulsa em relação ao que é exibido.
Diante de tamanho mal gosto, há a história. Mitch (Ryan Reynolds) e Dave (Jason Bateman) são amigos de longa data que levam vidas completamente diferentes. Enquanto Dave é casado e dedicado ao trabalho, Mitch trabalha como ator e quer mais é farrear. Um dia, após saírem juntos, começam a falar das vantagens que o outro tem. Quando, no meio da noite, resolvem se aliviar em uma fonte acontece a mágica. As luzes da cidade apagam e voilá, eles trocam de corpos. Simples assim, sem maiores explicações. A partir de então segue-se a velha fórmula do estranhamento inicial com a vida do outro, a descoberta dos prazeres alheios e a consequente valorização da vida que tinha antes. Tudo como prega a cartilha deste tipo de comédia.
Além de ser um filme sem qualquer frescor, necessário para dar sobrevida à um tema tão batido, Eu Queria Ter a Sua Vida é extremamente apelativo. É na verdade a mescla dos tradicionais filmes de troca de corpos com as comédias adultas da atualidade, com piadas tão grosseiras que fariam até mesmo Adam Sandler corar de vergonha. Junta-se a isto protagonistas burocráticos, diálogos terríveis e uma sucessão de cenas que, ao invés de fazer rir pelo politicamente incorreto, geram constrangimento. Desastroso é pouco para classificá-lo.