Críticas AdoroCinema
3,0
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Rei Arthur - A Lenda da Espada

A Hollywood dos ingleses

por Renato Hermsdorff

O novo Rei Artur chega ao cinemas já doido para retornar. A versão repaginada da clássica história da literatura inglesa comandada por Guy Ritchie (Sherlock Holmes), Rei Arthur - A Lenda da Espada, é uma clara tentativa de iniciar uma nova franquia nos cinemas. Um filme de origem, de super-herói, que toma emprestadas referências de vários sucessos recentes do cinema e da TV. E, surpreendentemente, isso não é necessariamente ruim.

Das inúmeras visões que dão conta da lenda – mais desconexas do que a linha do tempo dos X-Men nos cinemas; nem ao mesmo se sabe se existiu, de fato, um Rei Arthur –, Ritchie (que também é autor do roteiro) escolheu a sua. Ou melhor, a do mercado.

Recuperando elementos “clássicos” da história – tão importante para a construção do imaginário inglês em termos de identidade quanto... “Macunaíma” (?) aos brasileiros –, o cineasta adicionou à releitura um quê de Game of Thrones (não à toa, além do pano de fundo da disputa pelo poder na realeza, há dois atores importantes do elenco da série no filme: Aidan Gillen e Michael McElhatton); uma pitada de Animais Fantásticos e Onde Habitam (como parte do treinamento do protagonista); um tanto de O Senhor dos Anéis (bota tanto nisso); para transformar o herói clássico em... super-herói.

Charlie Hunnam encara a responsabilidade de liderar o elenco. Filho de Uther Pendragon (Eric Bana), ainda bebê Arthur teve o pai assassinado pelo ganancioso tio, Vortigern (Jude Law), desejoso da coroa do reino de Camelot. Assim, foi criado por prostitutas e, nas ruas de Londonium (localidade que seria o equivalente à Londres atual) aprendeu a se virar sozinho, recebendo treinamento em lutas. Quis o destino que o predestinado rei, ao completar 30 anos, fosse o único capaz de remover da rocha onde jazia fincada a lendária espada Excalibur. Aquele que conseguisse cumprir o feito, segundo a profecia, seria o próximo monarca.

O Arthur de Ritchie (e de Hunnam) é quase um bonachão. Um sujeito esperto, que acaba sendo levado ao sabor dos ventos – e que, por isso mesmo, não exige tanto assim da interpretação do ator, que cumpre bem a função. Vortigern, ou melhor, Jude Law, por outro lado, se destaca (e mete medo).

Se a aposta é dançar conforme a música, não poderiam faltar referências aos filmes de super-heróis, a menina (e menino) dos olhos de qualquer produtor de cinema que se proponha a ganhar dinheiro na indústria. E assim como o mjolnir está para Thor, a Excalibur está para Arthur, o guerreiro falastrão. Sem a espada, ele não é nada; sem o humor, não é Guy Ritchie.

Esse aspecto é um dos pontos altos do filme. Se por um lado, A Lenda da Espada bebe da fonte de tantos sucessos recentes do cinema (e da TV) – se valendo de um apelo comercial no mínimo pertinente para 2017 –, o fato aponta para uma escassez de criatividade; por outro, o faz de maneira minimamente honesta - e até com “autoralidade”.

Goste ou não, a assinatura de Guy Ritchie está presente, o que significa dizer: intercalar imagens aceleradas com outras em slow motion (artifício que permite acompanhar os movimentos nas grandiosas cenas de ação); investimento no diálogo afiado (a conjunção do humor com uma montagem ágil); a introdução de personagens de nomes esquisitos como “Bill Seboso”. Com efeitos de ponta, o resultado diverte.

Se não traz nenhum desafio para o espectador, Rei Arthur - A Lenda da Espada tampouco ofende a inteligência da plateia.